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Estética - OUSE SABER!

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24 M idiet Foucault - Ditos c E scritos<br />

cantos, de modo que o próprio objeto aviva o desejo e, por aí<br />

sua própria dor, em um círculo cada vez m ais intenso que só<br />

será destruído pela fulguração final. A m áquina de Pauliska<br />

tem. no entanto, maiores e mais estranhos poderes. Diferentemente<br />

da máquina-maquinação, ela m antém entre os parceiros<br />

uma distância máxima que só um im palpável flu ido pode transpor.<br />

Este fluido extrai desse corpo que sofre, e porque ele sofre,<br />

sua desejabilidade - mistura de sua juventude, de sua carne<br />

sem imperfeição, de seus frêmitos encadeados. Ora, o agente<br />

dessa mistura é a corrente elétrica que provoca, na vítima, todos<br />

os movimentos físicos do desejo. A desejabilidade que o fluido<br />

leva ao perseguidor é o desejo do perseguido, ao passo que o<br />

carrasco inerte, enervado, recebe, com o em um prim eiro aleita­<br />

mento, esse desejo que imediatamente ele faz seu. Ou melhor,<br />

que transmite sem retê-lo ao m ovim ento da roda, formando as­<br />

sim um simples relé nesse desejo perseguido que retorna a ele<br />

mesmo como uma perseguição acelerada. O carrasco não passa<br />

de um momento neutro no apetite de sua vítim a; e a máquina<br />

revela o que ela é: não objetivação obreira do desejo, mas projeção<br />

do desejado, em que a mecânica das engrenagens desarticula<br />

o desejante. O que não constitui para este últim o sua derrota;<br />

pelo contrário, sua passividade é artifício do prazer que,<br />

por conhecer todos os momentos do desejo, os experimenta em<br />

um jogo impessoal cuja crueldade m antém ao mesm o tempo<br />

uma consciência aguda, e uma m ecânica sem alma.<br />

A economia dessa máquina é bem particular. Em Sade, o<br />

aparelho desenha, em sua m eticulosidade, a arquitetura de um<br />

desejo que permanece soberano. M esm o quando ele está esgotado<br />

e a máquina é construída para reanim á-lo, o desejante<br />

mantém seus direitos absolutos de sujeito, a vítim a não passando<br />

jamais da unidade longínqua, enigm ática e narrativa de<br />

um objeto de desejo e de um motivo de sofrim ento. De sorte que<br />

no fim de tudo a perfeição da m áquina que tortura é o corpo<br />

torturado, como ponto de aplicação da vontade cruel (poi<br />

exemplo, as mesas vivas de M inski). A m áqu ina “eletrodinâmi-<br />

ca” do Surm âle é, pelo contrário, de natureza vampiresca: as<br />

rodas enfurecidas levam o m ecanism o ao ponto de delírio<br />

quando ele se torna um animal m onstruoso cujas mandíbulas<br />

esmagam, incendiando-o, o corpo inexaurível do herói. A maquina<br />

de Révéroni também consagra a apoteose dos guerreiros<br />

fatigados, mas em um outro sentido. Está instalada no fim d°

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