14.04.2013 Views

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

94 Mk lu í Koiu aull - Oitos c Kscritos<br />

santo à prova. Prova de sua proximidade, mas tam bém de seu<br />

alastamento: elas o envolviam, investiam sobre ele de todas as<br />

partes e. no momento em que ele estendia a mão, elas se desvaneciam.<br />

De maneira que diante delas o Santo só podia ser pura<br />

passividade: bastava que ele as provocasse, através do Livro,<br />

pelas condescendencias de sua m em ória ou de sua imaginação.<br />

Qualquer gesto vindo dele, qualquer palavra de piedade, qualquer<br />

violência dissipava a miragem, m ostrando a ele que havia<br />

sido tentado (que a irrealidade da imagem fora realidade apenas<br />

em seu coração). Bouvard e Pécuchet, em compensação,<br />

são peregrinos aos quais nada fatiga: eles tentam tudo, aproxi-<br />

mam-se de tudo. tocam em tudo; colocam tudo à prova de sua<br />

pequena iniciativa. Se eles se retiraram, com o o m onge do Egito.<br />

era um retiro ativo, uma ociosidade em preendedora em que<br />

eles convocavam, com grande reforço de leituras, toda a seriedade<br />

da ciência, com as verdades mais solenem ente impressas.<br />

O que eles leram, querem fazê-lo, e se a prom essa recua diante<br />

deles, como as imagens diante de Santo Antão, isto não ocorre<br />

desde o primeiro gesto, mas ao termo de sua obstinação. Tenta­<br />

ção pelo zelo.<br />

Porque, para os dois simplórios, ser tentado é crer. Crer no<br />

que lêem, crer no que ouvem dizer, crer im ediatam ente e infinitamente<br />

no murmúrio do discurso. Toda a sua inocência se<br />

precipita no espaço aberto pela linguagem já dita. O que é lido e<br />

ouvido logo se torna o que d e v e s e r fe ito . Mas tão grande é a pureza<br />

do seu empreendimento que seu fracasso não abala jam ais<br />

a solidez da sua crença30 [: eles não avaliam o verd a d eiro do que<br />

sabem com a medida de um sucesso; eles não testam suas crenças<br />

experimentando-as na ação]. Os desastres perm anecem exteriores<br />

à soberania de sua fé; esta perm anece intacta. Quando<br />

Bouvard e Pécuchet renunciam, não é a crer, m as a fazer o que<br />

eles crêem. Eles se afastam das obras para conservar, deslum ­<br />

brante. sua fé na fé.31 Eles são a imagem de Job no m undo m oderno:<br />

atingidos menos em seus bens do que em seu saber,<br />

abandonados não por Deus mas pela Ciência, eles mantêm<br />

30. Mas tão grande é a pureza do seu empreendimento que seu fracasso, se lhes<br />

mostra a incerteza de tal proposição ou de tal ciência, não abala jamais a<br />

solidez de sua crença no saber em geral. Os desastres...<br />

31. Quando Bouvard e Pécuchet renunciam, não é a saber nem a crer no saber,<br />

mas a fazer o que eles sabem. Eles se afastam das obras, para conservar sua fé<br />

na fé.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!