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Estética - OUSE SABER!

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132 Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

critica da analogia). Havia ali vários níveis de críticas. O que havia<br />

de curioso é que era um texto ingrato, um manifesto de ingratidão<br />

em que Robbe-Grillet se punha a destroçar seus pais,<br />

Sartre e Camus, com uma ferocidade exemplar. Essa crítica<br />

implacável da linguagem romanesca, particularmente da linguagem<br />

descritiva de A náusea, e mais ainda de O estrangeiro,<br />

era surpreendente, pois ao mesmo tempo ela apresentava em<br />

Robbe-Grillet a expressão radical do que quiseram fazer Sartre<br />

e Camus, ou seja, um relato das coisas que estão ali simplesmente,<br />

sem nada acrescentar à sua pura e sim ples exposição.<br />

Entretanto, vejam, à medida que se lê o artigo, tem-se a impressão<br />

de que alguma outra coisa se passa, de que o conjunto dessa<br />

auto-interpretação dele mesmo parece tender para alguma<br />

coisa que talvez esteja finalmente muito longe da fenomenología<br />

da existência derivada de Sartre. Teríam os uma obra que, a<br />

partir dela, engendra novamente um segundo duplo. Tom o um<br />

trecho desse texto, uma frase particularm ente típica: “Limitar-se<br />

à descrição, diz Robbe-Grillet, é evidentemente recusar<br />

todos os outros modos de aproximação do objeto”. Ora, eis que<br />

muito recentemente eu lia um artigo publicado em uma revista<br />

literária. Era um artigo de filosofia científica, de interpretação<br />

da ciência por um grande físico, Max Planck. Trata-se de um<br />

texto muito antigo, que data do início do século, já que Max<br />

Planck é o homem que criou a teoria dos quanta, que introduziu<br />

o descontinuo na física da energia, particularm ente da energia<br />

luminosa,e isso por volta de 1900, antes de Einstein e de<br />

seus fótons. Médiations, por razões que desconheço, publicou<br />

esse texto, nesse verão, com o título “Positivism e et monde exté-<br />

rieur réel”12. Neste texto de Planck há uma crítica ao positivismo<br />

científico, ou seja, à filosofia científica então dominante.<br />

Ora, cada vez que Planck fala do positivism o científico do seu<br />

tempo, um leitor sensível aos problem as rom anescos derivados<br />

de Robbe-Grillet terá a im pressão de que ele fala de Rob-<br />

be-Grillet... Tem-se a impressão de que há imediatamente um<br />

parentesco implícito entre os dois e que uma espécie de positivismo<br />

romanesco, se vocês querem, poderia se revelar nesse<br />

tipo de aproximação. Citarei, para ter alguns pontos de apoio,<br />

passagens do texto de Planck: “Restringir-se à descrição das experiências<br />

realizadas, escreve Planck, e além do mais fazer dis-<br />

12. Planck (M.), "Positivisme et monde extérieur réel", (trad. C. Heim), Médiations.<br />

Revue des expressions contemporaines, n- 6, verão de 1963, ps. 49-68.

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