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Estética - OUSE SABER!

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6 8 Michel Foucault - Ditos c Escritos<br />

uma determinação que colocará a poesia no mais alto lugar do<br />

pensamento. Todo o resto não será literatura.”8<br />

*<br />

Para essa palavra ficçáo, várias vezes trazida, depois abandonada,<br />

é preciso voltar finalmente. Não sem um pouco de temor.<br />

Porque ela soa como um termo de psicologia (imaginação,<br />

fantasma, devaneio, invenção etc.). Porque parece pertencer a<br />

uma das duas dinastias do Real e do Irreal. Porque parece reconduzir<br />

- e isso seria tão simples após a literatura do objeto -<br />

às flexões da linguagem subjetiva. Porque ela oferece tanta<br />

apreensão e escapa. Atravessando, de viés, a incerteza do sonho<br />

e da espera, da loucura e da vigília, a ficção não designa<br />

uma série de experiências às quais o surrealism o já havia emprestado<br />

sua linguagem? O olhar atento que T el q u el dirige a<br />

Breton não é retrospecção. E, no entanto, o surrealismo havia<br />

empenhado essas experiências na busca de uma realidade que<br />

as tornasse possíveis e lhes desse acima de qualquer linguagem<br />

(atuando sobre ela, ou com ela, ou apesar dela) um poder imperioso.<br />

Mas e se essas experiências, pelo contrário, pudessem<br />

ser mantidas onde estão, em sua superfície sem profundidade,<br />

nesse volume impreciso de onde elas nos vêm, vibrando em torno<br />

do seu núcleo indeterminável, sobre seu solo que é uma ausência<br />

de solo? E se o sonho, a loucura, a noite não marcassem<br />

o posicionamento de nenhum lim iar solene, mas traçassem e<br />

apagassem incessantemente os limites que a vigília e o discurso<br />

transpõem, quando eles vêm até nós e nos chegam já desdobrados?<br />

Se o fictício fosse, justamente, não o m ais além, nem o segredo<br />

íntimo do cotidiano, mas esse trajeto de flecha que nos<br />

salta aos olhos e nos oferece tudo o que aparece? Então, o fictício<br />

seria também o que nomeia as coisas, fá-las falar e oferece<br />

na linguagem seu ser já dividido pelo soberano poder das palavras:<br />

“Paisagens em dois”, diz Marcelin Pleynet. Não dizer, portanto,<br />

que a ficção é a linguagem: o giro seria muito simples,<br />

embora seja familiar atualmente. Dizer, com m ais prudência,<br />

que há entre elas uma dependência com plexa, uma confirmação<br />

e uma contestação; e que, mantida por tanto tem po quanto<br />

8. (N.A.) E depois, justamente, J. P. Faye se aproxim ou de T el quel. ele que<br />

sonha escrever romances não “em série” , mas estabelecendo uns em relação<br />

aos outros uma certa relação de proporção.

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