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Estética - OUSE SABER!

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1 6 6 M ic h d E ou ca u lt - D ito s e E s c rito s<br />

J. Tortel: Gostaria de acrescentar outra coisa. Penso que se<br />

está de acordo que não escolhemos mais, que não podemos<br />

mais escolher porque a metáfora se tornou linguagem cristalizada,<br />

ela se tornou linguagem que não mais nos pertence, linguagem<br />

banal.<br />

J.-L. Baudry: Ela não é linguagem cristalizada...<br />

J. Tortel: Se a repensarmos profundamente, ela retoma toda<br />

sua novidade. Digamos, por exemplo, “o dia se levanta” e, como<br />

dizia Breton: “Pensem nessa expressão, peço a vocês”, pensem<br />

no que quer dizer “o dia se levanta” .<br />

E. Sanguineti: Concordo perfeitamente que é preciso fazer a<br />

história da metáfora, pois justamente eu dizia: “A metáfora é o<br />

único lado histórico da linguagem”; para mim, afinal, a metáfora<br />

é a linguagem. Talvez eu tenha me explicado mal, mas quando<br />

disse que sempre escolho é porque, tacitamente, sem o dizer,<br />

faço a apologia de Robbe-Grillet. Pois a descoberta por<br />

Robbe-Grillet (ou por Kafka, bem mais, evidentemente) da recusa<br />

da analogia humanizante é a descoberta de que a linguagem<br />

nunca é inocente no sentido de que se em prego - sem escolher<br />

- a metáfora conhecida que torna o mundo habitável para<br />

mim creio não escolher, creio dar a im agem verdadeira do<br />

mundo, enquanto, para dizer uma verdade, até certo ponto, é<br />

absolutamente necessário recusar a linguagem tal como foi<br />

construída historicamente.<br />

J. Thibaudeau: É preciso também se servir da linguagem...<br />

E. Sanguineti: Mas sim, evidentemente, é preciso criar uma<br />

outra metáfora.<br />

J. Thibaudeau: É preciso situar novam ente a mesma metáfora...<br />

E. Sanguineti: Mas situá-la novam ente pode querer dizer<br />

duas coisas: ou o que faço agora - se vocês perm item -, ou seja,<br />

refletir sobre a natureza da metáfora, fazer a história da metáfora<br />

e de sua significação etc., ou, se estou começando a escrever<br />

um livro, recusar, por exemplo - é uma solução, é a solução<br />

Kafka -, a metáfora como tal. Nessa m edida, é fatal que, quando<br />

recuso a metáfora, eu empregue a alegoria.<br />

P. Sollers: Ou a alusão...<br />

E. Sanguineti: A alegoria. Este é o problem a.<br />

Gostaria de retomar o ponto de partida de Jean Pierre Fayc,<br />

ou seja, a oposição Proust-Kaflka. Por um lado, seja em Proust,<br />

seja em Joyce, vê-se que tudo se torna m etáfora; a rigor, obte­

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