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Estética - OUSE SABER!

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XL Michel Foucault - Ditos c Escritos<br />

toda a arte do século XX, toda a pintura no interior da qual ain-<br />

da atualmente se desenvolve a arte contemporánea”. Trata-se<br />

de uma prática pictórica diferente que encontra na abstração e<br />

em Mondrian espaços privilegiados. Foucault diz que Manetfaz<br />

do quadro "um aparelho para colocar questões, a fabricar du<br />

deréglement, a suscitar conflitos”,* o que em Manet torna possível<br />

a arte contemporánea, todo o século XX produzindo uma<br />

ruptura radical no interior mesmo da pintura ocidental, pondo<br />

em questão a tese de que a pintura é representação, restituindo<br />

à pintura a materialidade do espaço. “Manet reinventa” - diz<br />

Foucault - “ou talvez inventa o quadro objeto como materialidade,<br />

como coisa colorida que vem iluminar urna luz exterior que<br />

diante da qual e em torno da qual vem girar o espectador”.**<br />

Longe então da ilusão de um espaço construído segundo a perspectiva<br />

renascentista de Bruneleschi ou Massacio, ou ainda da<br />

suposta magia que a imagem pode dar da realidade, abre-se o<br />

espaço em que se pode alojar a decomposição do espaço, a abstração<br />

ou obras como as de Magritte ou Warhol.<br />

Paul Rebeyrolle, artista que mantém um diálogo entre a imagem<br />

e a realidade e que também foi estudado por Sartre, ou, ainda,<br />

Marmande ou Jean Louis Prat, foi consagrado por Foucault<br />

em seus textos mais instigantes sobre a pintura. Foucault nota<br />

que, na pintura de Rebeyrolle, há três séries de animais: as trutas<br />

e as rãs, os pássaros e, por fim, os cães. Das rãs e trutas ele<br />

diz: elas “se entrelaçam às ervas, às pedras, aos turbilhões do<br />

riacho...”. As cores deslizam sobre sua forma de origem, constituem,<br />

ao lado delas, um pouco mais adiante, manchas flutuantes<br />

e libertas. E, ainda, “animais de baixo, animais das águas, das<br />

terras, das terras úmidas, formadas a partir delas e dissolvidas<br />

nelas (um pouco como os ratos de Aristóteles), as rãs e as trutas<br />

só podem ser pintadas a elas dispersas e ligadas, levam com elas<br />

o mundo que as esquivam’’ (Paul R ebeyrolle, Paris, Fondation<br />

Maeght, 2000, p. 32). Quanto aos pássaros, diz Foucault, eles<br />

“vêm do alto, como o poder” [ib id em ). Caem sobre a força que<br />

vem de baixo e que eles querem dominar. D a série guerrilheiros<br />

de Rebeyrolle, os pássaros-heli^ópteros-pará-quedistas saltam<br />

para o solo, já marcados pela morte, que eles vão semear em tor­<br />

*La pelnture de Manet - Cahiers de la Tuniste, n - 149-150, ano 39. 1989. Ps-<br />

61-89.<br />

**La pelnture de Manet - Cahiers de la Tunlsle, n22 49-50, 1989, p- 6-

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