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Estética - OUSE SABER!

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152 Michel Foucault - D ilos c E scritos<br />

lado, aqui ou ali. Mas, quando Robbe-Grillet chama isso de<br />

analogia, é porque ele toma a palavra analogia no sentido vulgar.<br />

Se a tomarmos em seu sentido rigoroso, é então Robbe-Grillet<br />

que está na analogia. La ja lou s ie me parece, desse<br />

ponto de vista, um belíssimo modelo de analogia. Talvez não<br />

haja personagens em La jalousie, não haja intriga, não haja<br />

narrativa, não haja tempo, mas, enfim, se contarmos nos dedos.<br />

há mesmo assim A., a mulher, Franz, que é o homem, há o<br />

olhar, que náo está em lugar algum, que não fala, que diz tudo,<br />

depois há um quarto personagem, a centopéia, a lacraia, que é<br />

um personagem na medida em que ela é...<br />

J. Thibaudeau: Há também os negros, as bananeiras...<br />

J. P. Faye: Sim, mas esses são comparsas... Acredito que a<br />

centopéia é muito mais importante. E assim que eu a vejo. Este<br />

drama será contado a quatro. O tempo todo, a brava centopéia,<br />

o animal, a mancha está para um dos outros três assim como<br />

os outros dois estáo entre eles, e isso se m ovim enta o tempo<br />

todo. A mancha é, do ponto de vista im pessoal do homem, do<br />

observador (do “marido”) o que Franz é para A., e depois, em<br />

outros casos, as relações mudam. Essa mancha está sempre ali<br />

como o análogo dessa marca que seria a relação de Franz com a<br />

mulher. Isso pode ser discutido de mil maneiras, mas esse sistema<br />

da analogia a quatro, o que é em si m esm o? No fundo, é<br />

uma das chaves da razão, porque, de Tales até a teoria dos conjuntos,<br />

este é o modelo mais simples do conjunto de transformações,<br />

de permutações. Mas é, ao mesmo tempo, uma das cifras<br />

de muitos grandes romances: como A ca rtu xa de Parma<br />

ou mesmo obras literárias não romanescas, começando por<br />

Andrômaca. EmÀprocura do tempo p e rd id o , há o tempo todo<br />

retomadas de relações simétricas.<br />

M. de Gandillac: As afinidades eletivas, de Goethe, são um<br />

exemplo surpreendente disso.<br />

J. P. Faye: É um texto que não conheço bem... Enfim, À procura<br />

do tempo perdido é uma espécie de cascata analógica. 0<br />

que eu poderia fazer agora é, tal como Sollers ontem, imaginar<br />

livros possíveis. Livros que não somente conteriam neles mesmos,<br />

eventualmente, grupos de permutadores a quatro (ou<br />

mais), em que os papéis estariam, uns em relação aos outros,<br />

em estado de transformação quanto a certas articulações, a certos<br />

elementos neutros, a certos pontos invisíveis e presentes.<br />

Mas que, igualmente, estariam entre eles em rede. Dito de outra

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