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Estética - OUSE SABER!

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1970 - Sete Proposições sobre o Sétimo Anjo 309<br />

lavras na boca e em torn o do sexo; faz nascer e se apagar em um<br />

tempo m ais rá p id o d o que qualquer pensamento um turbilhão<br />

de cenas frenéticas, selvagens ou jubilatórias de onde surgem<br />

as palavras e que as p ala v ras cham am . Elas são o “Évohé!” múl­<br />

tiplo desses bacan ais. M ais do que um a fuga de idéias a partir<br />

de um a repetição verbal, trata-se de um a cenografia fonética in­<br />

finitamente acelerada.<br />

VI. Os três procedimentos<br />

Deleuze diz, adm iravelm ente: “A psicose e sua linguagem são<br />

inseparáveis d o ‘procedim en to lingüístico', de um procedimen­<br />

to lingüístico. Foi o p ro b le m a do procedimento que, na psico­<br />

se, substituiu o p ro b le m a d a significação e do recalcamento”<br />

(prefácio a L o u is W olfson , L e schizo et les langues, Gallimard,<br />

1970, p. 23). E le com eça a funcionar quando a relação das pa­<br />

lavras com as coisas n ão é m ais de designação, a relação entre<br />

uma proposição e o u tra não é m ais de significação, a relação<br />

entre um a língu a e o u tra (ou entre um estado de língua e um ou­<br />

tro) não é m ais de tradução. O procedimento é. inicialmente,<br />

aquilo que m an ip u la as coisas im bricadas nas palavras, não<br />

absolutamente p a ra sep ará-la s delas e restituir à linguagem seu<br />

puro poder de designação, m as para purificar as coisas, esteri­<br />

lizá-las, afastar to d as aquelas que estão carregadas de um po<br />

der nocivo, exorcizar a “m á m atéria doente", como diz Wolfson.<br />

O procedim ento é, tam bém , aquilo que, de uma proposição a<br />

outra, por m ais p ró x im a s que estejam, além de descobrir uma<br />

equivalência significativa, constrói toda uma extensão de dis­<br />

cursos, de aventuras, de cenas, de personagens e de mecânicas<br />

que efetuam eles p ró p rio s a translação material: espaço rous-<br />

seliano do entre d u as frases. O procedimento, enfim - e isso no<br />

extremo oposto de q u alq u er tradução -, decompõe um estado<br />

de língua em um outro, e com essas ruínas, com esses fragmen­<br />

tos, com esses tições ain da incandescentes constrói um cenário<br />

para encenar novam ente as cenas de violência, de assassinato e<br />

de antropofagia. E is-n os de volta à impura absorção. Mas tra­<br />

ta-se de um a espiral - não de um círculo: pois não estamos<br />

mais no m esm o nível; W olfson temia que, por intermédio das<br />

palavras, o m au objeto m aterno entrasse em seu corpo; Brisset<br />

encena a devoraçào dos hom ens sob a garra das palavras torna­<br />

das novamente selvagens.

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