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Estética - OUSE SABER!

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1964 - O M alla rm é de J.-P. Richard 1 89<br />

sempre reta do seu discurso, é uma nova dimensão da crítica literária.<br />

Dimensão quase desconhecida até ele (salvo, sem dúvida,<br />

por Starobinski), e que se poderia opor tanto ao “Eu" literário<br />

quanto à subjetividade psicológica, designando-o somente<br />

como sujeito falante. Sabe-se das dificuldades que ela opõe (ou<br />

propõe) às teorias lógicas, lingüísticas e psicanalíticas; e, no entanto,<br />

é em direção a ela que todas as três, por diversos caminhos<br />

e a propósito de diferentes problemas, começam a retornar<br />

atualmente. Talvez ela seja igualmente para a análise literária<br />

uma categoria fundamental.<br />

3) É ele em todo caso quem permite reconhecer na imagem<br />

algo além de uma m etáfora ou um fantasm a e analisá-la talvez<br />

pela primeira vez como pensam ento poético. Curiosamente,<br />

Richard foi criticado por ter sensualizado a experiência intelectual<br />

de Mallarmé e por ter restabelecido em termos de gozo o<br />

que foi antes á secura e o desespero da Idéia: como se a suculência<br />

do prazer pudesse ser o paraíso, perdido mas sempre<br />

buscado, daquele cuja obra foi muito cedo marcada pela noite<br />

de Igitur. Mas nos reportemos à análise de Richard7. A história<br />

deste Elbehnon (“í ’ii be non e”) não é para ele nem a transcrição<br />

de uma crise melancólica nem o equivalente filosófico de um<br />

suicida libidinal. Nela vê antes a instalação ou a liberação da<br />

linguagem literária em torno de uma vacância central - lacuna<br />

que não é outra senão aquele mesmo que fala: daí em diante, a<br />

voz do poeta não virá de nenhum lábio; no oco do tempo, ela<br />

será a palavra da Meia-noite. Vela soprada.<br />

É por isso que Richard não pode dissociar a experiência de<br />

Mallarmé das duas imagens opostas e solidárias que são a gruta<br />

e o diamante: o diamante que cintila no espaço circunvizinho<br />

a partir de um coração secretamente sombrio; e a gruta, imenso<br />

volume de noite que repercute o eco das vozes no contorno<br />

interior dos rochedos. Mas essas imagens são mais do que objetos<br />

privilegiados; são as próprias imagens de todas as imagens;<br />

elas dizem por sua configuração qual é a necessária relação<br />

do pensamento com o visível; mostram como a palavra,<br />

desde que ela se torne palavra pensativa, se esvazia em seu centro,<br />

deixa perder-se na noite seu ponto de partida e sua coerência<br />

subjetiva, e só reata consigo mesma na periferia do sensível,<br />

na cintilação ininterrupta de uma pedra que gira lentamente so-<br />

7. (N.A.) Ps. 184-208.

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