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Estética - OUSE SABER!

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3 1 0 Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

Certamente, nenhuma das três form as do procedim ento está<br />

absolutamente ausente em Wolfson, R oussel e Brisset. Mas<br />

cada um deles privilegia uma dentre elas conform e a dimensão<br />

da linguagem que seu sofrimento, sua precaução ou sua alegria<br />

excluíram em primeira instância. W olfson sofre com a intrusão<br />

de todas as palavras inglesas que se entrecruzam com o hostil<br />

alimento materno: a essa linguagem privada d a distância que<br />

permite designar, o procedimento responde simultaneamente<br />

com o fechamento (do corpo, dos ouvidos, d os orifícios; em<br />

suma, a constituição de uma interioridade fechada) e a passa­<br />

gem para o exterior (nas línguas estranhas em direção às quais<br />

mil pequenos canais subterrâneos foram p rep ara d o s); e dessa<br />

pequena mônada bem fechada, em que vêm sim bolizar todas as<br />

línguas estranhas, Wolfson nada mais pode dizer a não ser ele.<br />

Uma vez a boca rigorosamente tapada, os olhos ávidos absor­<br />

vem nos livros todos os elementos que servirão p a ra transfor­<br />

mar, de acordo com um procedimento bem estabelecido, desde<br />

a sua entrada nos ouvidos, as palavras m aternas em termos es­<br />

tranhos. Tem-se a série: boca, olho, ouvido.<br />

Debruçado sobre todos os contratempos d a linguagem como<br />

sobre a pequena lente de uma caneta-recordação, R oussel reco­<br />

nhece entre duas expressões quase idênticas u m a tal ruptura<br />

de significação que, para uni-las, ele terá que fazê-las passar<br />

pelo filtro das sonoridades elementares, terá que fazê-las res­<br />

saltar várias vezes e compor, com esses fragm entos fonéticos,<br />

cenas cuja substância será mais de um a vez extraída de sua<br />

própria boca - miolo de pão, miúdo de vitela, ou dentes. Série:<br />

olho, ouvido, boca.<br />

Quanto a Brisset, é o ouvido que inicialmente prom ove o<br />

jogo, a partir do momento em que a estrutura do código ruiu,<br />

tornando impossível qualquer tradução da língua; surgem en­<br />

tão os ruídos repetitivos como núcleos elem entares; em volta<br />

deles aparece e se apaga todo um turbilhão de cenas que, em<br />

menos de um instante, se oferecem ao olhar; infatigavelmente,<br />

nossos ancestrais se entredevoram.<br />

Quando a designação desaparece, as coisas se imbricam<br />

com as palavras, então é a boca que se fecha. Q u a n d o a comuni­<br />

cação das frases pelo sentido se interrompe, então o olho se di­<br />

lata diante do infinito das diferenças. Enfim, quan do o código é<br />

abolido, o ouvido, repercute ruídos repetitivos. N ão quero dizer<br />

que o código entre pelos ouvidos, o sentido, pelo olho, e que a

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