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Estética - OUSE SABER!

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1970 - Sete Proposições sobre o Sétimo Anjo 303<br />

palavras; é u m a m u ltiplicid ade de enunciados. Sob uma pa­<br />

lavra que pronun ciam os, o que se esconde não é uma outra<br />

palavra, nem m esm o várias palavras unidas, mas, na maior<br />

parte do tempo, u m a frase ou um a série de frases. Eis a dupla<br />

etimologia - e adm irem os justam ente a dupla geminação - de<br />

origine (origem ) e de im agination (imaginação): “Eau rit, ore<br />

ist, oris. J ’is noeud, gine. Oris = gine = la gine urine, Veau rit<br />

gine. Au rige ist noeud. Origine (origem). O escoamento da<br />

água está na origem d a palavra. A inversão de oris é rio, e rio ou<br />

rit eau é o ruisseau (riacho). Quanto à palavra gine, ela logo se<br />

aplica à fêmea: tu te lim es à gine? Tu te iimagines. Je me<br />

lime, à gine est? J e m e Vimaginais. On ce, Vimage ist né; on<br />

ce, lime a gine ai, on se 1’imaginait. Lim e a gine à sillon:<br />

iim age ist, noeud à sillon; Vim age ist, n a i à sillon." O estado<br />

primeiro da língua não era, portanto, um conjunto definível de<br />

símbolos e regras de construção; era um a massa infinita de<br />

enunciados, um escoam ento de coisas ditas: por trás das pala­<br />

vras do nosso dicionário, o que devemos encontrar não são ab­<br />

solutamente constantes morfológicas, mas afirmações, ques­<br />

tões, desejos, com andos. A s palavras são fragmentos de discur­<br />

sos traçados p or elas m esm as, m odalidades de enunciados<br />

imobilizados e reduzidos ao neutro. Antes das palavras, havia<br />

as frases; antes do vocabulário, havia os enunciados; antes das<br />

sílabas e da organização elementar dos sons. havia o infinito<br />

murmúrio de tudo o que se dizia. Bem antes da língua, se fala­<br />

va. Mas de que se falava? Desse homem que ainda não existia<br />

porque não era dotado de nenhum a língua; de sua formação, de<br />

seu lento desenraizam ento d a animalidade: do pântano do qual<br />

sua existência de girino escapava com dificuldade? De forma<br />

que sob as palavras de nossa língua atual frases se fazem ouvir<br />

- pronunciadas com essas m esm as palavras ou quase - por<br />

homens que ainda não existiam e que falavam do seu futuro<br />

nascimento. Trata-se, diz Brisset. de “demonstrar a criação do<br />

homem com m ateriais que vam os tomar de sua boca, leitor,<br />

onde Deus as havia colocado antes que o homem fosse criado”.<br />

Criação dupla e entrecruzada do homem e das línguas, tendo<br />

como pano de fundo um imenso discurso anterior.<br />

Para Brisset, buscar a origem das línguas não é encontrar<br />

para elas um princípio de formação na história, um jogo de ele­<br />

mentos reveláveis que asseguram sua construção, uma rede de<br />

comunicação universal entre elas. É sobretudo abrir cada uma

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