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Estética - OUSE SABER!

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76 M hík'I Koiu'aull - Oitos o E scritos<br />

ría da vida.* O que foi “tentação” entre as ruinas de um mundo<br />

antigo ainda povoado de fantasmas se tornou “educação” na<br />

prosa do mundo moderno.<br />

Nascida muito cedo - e talvez de um espetáculo de marionetes<br />

La tentation percorre toda a obra de Flaubert. Ao lado<br />

dos outros textos, por trás deles, parece que L a tentation constitui<br />

uma prodigiosa reserva de violências, fantasmagorias, quimeras.<br />

pesadelos, perfis cômicos. Esse tesouro incomensurável,<br />

seria possível dizer que Flaubert o passou sucessivamente<br />

à grisalha dos devaneios provincianos em M a d a m e Bovary,<br />

modelado e esculpido pelos cenários de S a la m m b ô , reduzido<br />

ao grotesco cotidiano com B o u va rd . Sentim os que L a tentation<br />

é, para Flaubert, o sonho de sua escrita: o que ele teria querido<br />

que ela fosse [- dócil, suave, espontânea, harmoniosamente<br />

desfeita na embriaguez das frases, bela -], m as também o que<br />

ela devia deixar de ser para despertar enfim na form a atual3. La<br />

tentation existiu antes de todas as obras4 de Flaubert (seu primeiro<br />

esboço, encontramo-no nas M é m o ir e s d ’u n J o u , no Rêve<br />

d'enfer, na D a n se des m orts e, sobretudo, em S m a h r); e foi repetida-ritual,<br />

purificação, exercício, “tentação” repelida? - an­<br />

tes de cada uma delas5. Em desaprum o acim a da obra, ela a ultrapassa<br />

com seus excessos tagarelas, com sua superabundância<br />

inculta, com sua população bestial; e, na retaguarda de todos<br />

os textos, ela oferece, com o negativo de sua escrita, a prosa<br />

sombria, murmurante que ele precisou recalcar e pouco a pouco<br />

reconduzir ao silêncio para elas próprias poderem emergir.<br />

[Toda a obra de Flaubert é o incêndio desse discurso primeiro:<br />

sua cinza preciosa, seu negro, duro carvão.)<br />

II<br />

Prazerosamente, lê-se L a ten ta tion com o o protocolo de um<br />

devaneio liberado. [Ela seria para a literatura o que Bosch, Brue-<br />

ghel ou o Goya dos C a p rices puderam ser para a pintura.] Tédio<br />

dos primeiros leitores (ou ouvintes) diante deste desfile mo-<br />

2. E nesta noite, em que Frédéric afasta-se, com o por m edo de um incesto,<br />

daquela que ele não deixou de amar, é preciso talvez reconhecer o oposto da<br />

noite em que o eremita vencido se pôs a am ar a m atéria maternal da vida.<br />

3.....mas também o que ela deveria deixar de ser para receber sua forma final.<br />

4. ...antes de todos os livros...<br />

5. ...antes de cada um deles.<br />

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