14.04.2013 Views

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

114 Michel Foueault - Ditos e Escritos<br />

contra um diabo de carne), e que Gide estava mais perto de ter<br />

razão quando sucessivamente ele se aproximava e se esquivava<br />

representando, a pedido dos outros, o simulacro do diabo, mas<br />

não sabendo absolutamente, ao fazê-lo, se ele era dele o joguete,<br />

o objeto, o instrumento, ou se não era também o eleito de um<br />

deus atento e ardiloso. Talvez ele seja a essência da salvação,<br />

não por se anunciar por signos, mas por operar na profundeza<br />

dos simulacros.<br />

Já que todas as figuras que Klossowski delineia e faz mover<br />

em sua linguagem são simulacros, é preciso entender esta palavra<br />

com a ressonância que agora podem os lhe dar: vã imagem<br />

(em oposição à realidade); representação de alguma coisa (em<br />

que essa coisa se delega, se manifesta, mas se retira e em um<br />

certo sentido se esconde); mentira que faz tom ar um signo por<br />

um outro3; signo da presença de uma divindade (e possibilidade<br />

recíproca de tomar este signo pelo seu contrário); vinda simultânea<br />

do Mesmo e do Outro (sim ular é, originariamente, vir<br />

junto). Assim é estabelecida esta constelação característica de<br />

Klossowski, e maravilhosamente rica: sim ulacro, similitude,<br />

simultaneidade, simulação e dissimulação.<br />

*<br />

Para os lingüistas, o signo só detém seu sentido pelo jogo e<br />

pela soberania de todos os outros signos. Não há relação autônoma,<br />

natural ou imediata com o que ele significa. Ele vale não<br />

apenas por seu contexto, mas tam bém p or toda uma extensão<br />

virtual que se desdobra em pontilhado sobre o mesmo plano<br />

que ele: através dessa união de todos os significantes que definem<br />

a língua em um dado momento, ele é obrigado a dizer o<br />

que diz. No âmbito religioso, encontra-se freqüentemente um<br />

signo com uma estrutura com pletam ente diferente; o que ele<br />

diz, o diz por uma profunda vinculação com a origem, por uma<br />

consagração. Não há uma árvore na Escritura, nenhuma planta<br />

viva ou dessecada que não remeta à árvore da Cruz - a esta madeira<br />

cortada da Primeira Árvore ao pé da qual Adão sucumbiu.<br />

Tal imagem se sobrepõe em profundidade através de formas<br />

movediças, o que lhe confere essa dupla e estranha proprieda-<br />

3. (N.A.) Marmontel dizia admiravelmente: "Fingir exprim iria as m entiras do<br />

sentimento e do pensamento” (O euvres, Paris, Verdière, 1819, t. X. p. 431).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!