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Estética - OUSE SABER!

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1964 - Debate sobre o Rom ance 151<br />

pleno vôo, se é levado a movimentar de mil maneiras o que já se<br />

move. Na medida, justamente, em que a linguagem é sempre<br />

essa interferência, creio que se está condenado a ver o realismo<br />

se desgastar à medida que ele se refaz.<br />

Dito isto, já que Foucault volta à analogia, vou tentar relacioná-la<br />

ao que se dizia de La jalousie, porque o que me surpreende<br />

em La jalousie, entre muitas outras coisas, é uma construção<br />

tipicamente analógica. Isso talvez contrariasse Robbe-<br />

Grillet, porque ele tem uma antipatia, parece, profunda pela<br />

palavra “analogia”. Mas o que é a analogia? Isso depende do<br />

sentido em que ela é entendida. Se tomarmos a palavra no sentido<br />

próprio, isto é, no sentido que ela tem entre os gregos - já<br />

que é uma palavra grega -, é a relação, não entre duas coisas,<br />

não entre dois termos, mas entre duas relações entre duas proporções,<br />

portanto, entre quatro termos. A analogia típica é: A<br />

está para B assim como C está para D. Ou: A está para B assim<br />

como o próprio B está para C. (Nesse momento, aquele que está<br />

no meio é a média proporcional ou, como diziam os velhos gregos<br />

na Alexandria, é a média análoga, ele está para um assim<br />

como outro está paira ele.) Por que Robbe-Grillet se prende à<br />

analogia com tanto ardor? Porque Robbe-Grillet toma a analogia<br />

no sentido habitual, ela é para ele a metáfora, é a comparação<br />

romântica, é o vale de Lamartine, que é a imagem da solidão;<br />

há todo um vocabulário antropomórfico, mitológico, que<br />

se acumulou, que depositou uma espécie de sedimentação, de<br />

cascão na linguagem literária - e quanto mais uma linguagem é<br />

“literária”, mais ela carrega esse cascão (a linguagem literária<br />

no mau sentido da palavra). Ora, esse cascão - é também uma<br />

pátina, se quisermos - ao mesmo tempo carrega consigo toda<br />

uma carga de moralismo; é a maneira que o homem teve de tornar<br />

seu mundo mais delicado, mais humano, mais confortável.<br />

Quando vê a floresta, ele pensa que ela é majestosa, e isso lhe<br />

traz boas lembranças, desde que seja um pouco monarquista.<br />

Quando vê a aldeia aconchegada, isso o reanima... Isso é tudo<br />

que Robbe-Grillet busca em seu artigo de 1958 e, como lembrava<br />

Sanguineti, ele o relaciona com a tragédia: a tragédia é também<br />

uma maneira de querer colocar o homem nas coisas, lá<br />

onde absolutamente ele não está. Essa crítica, que já era percebida<br />

por Roland Barthes, é inteiramente pertinente em seu plano;<br />

essa limpeza a que se dedica Robbe-Grillet foi certamente a<br />

aceleração de qualquer coisa que provavelmente já se fazia ao

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