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Estética - OUSE SABER!

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256 Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

um texto do qual ele realiza, plasticamente, todas as significações.<br />

Mas pouco importa o sentido da subordinação ou da maneira<br />

com que ela se prolonga, se multiplica e se inverte: o essencial<br />

é que o signo verbal e a representação visual jamais são<br />

dados de imediato. Um plano sempre os hierarquiza. Este é o<br />

principio cuja soberania Klee aboliu, fazendo valer em um espaço<br />

incerto, reversível, flutuante (ao mesmo tempo folha de livro<br />

e tela, plano e volume, quadriculado de caderno e cadastro<br />

de terra, história e mapa) a justaposição das figuras e a sintaxe<br />

dos signos. Ele forneceu no entrecruzamento de um mesmo tecido<br />

os dois sistemas de representação: no qual (diferentemente<br />

dos calígrafos que reforçavam, multiplicando-o, o jogo das<br />

subordinações recíprocas) ele subvertia o espaço comum a eles<br />

e tentava construir um novo.<br />

0 segundo princípio coloca a equivalência entre o fato da similitude<br />

e a afirmação de um laço representativo. Que uma figura<br />

se assemelhe a uma coisa (ou a qualquer outra figura), que<br />

haja entre elas uma relação de analogia, e isto basta para que se<br />

introduza no jogo da pintura um enunciado evidente, banal, mil<br />

vezes repetido e, no entanto, quase sempre silencioso (é como<br />

um murmúrio infinito, obsedante, que envolve o silêncio das figuras,<br />

bloqueia-o, dele se apossa, fá-lo sair de si mesmo, e, finalmente,<br />

transporta-o ao domínio das coisas que podem ser<br />

nomeadas): “O que vocês vêem é isto.” Pouco importa, também,<br />

em que sentido é colocada a relação de representação, se a pintura<br />

é devolvida ao visível que a cerca ou se cria por si só um invisível<br />

que a ela se assemelha. O essencial é que não se pode<br />

dissociar similitude e afirmação. Kandinsky liberou a pintura<br />

dessa equivalência: não que ele tenha dissociado os seus termos,<br />

mas porque ele dispensou simultaneamente a semelhança<br />

e o funcionamento representativo.<br />

Ninguém, aparentemente, está mais afastado de Kandinsky e<br />

de Klee quanto Magritte. Pintura mais do que qualquer outra<br />

vinculada à exatidão das semelhanças até o ponto em que ela as<br />

multiplica voluntariamente como para confirmá-las: não basta<br />

que o cachimbo se pareça, no próprio desenho, com um outro<br />

cachimbo, que, por sua vez etc. Pintura mais do que qualquer<br />

outra determinada a separar, cuidadosamente, cruelmente, o<br />

elemento gráfico e o elemento plástico: se acontece de serem sobrepostas<br />

como o são uma legenda e sua imagem, é na condição<br />

de que o enunciado conteste a identidade manifesta da figura, e

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