14.04.2013 Views

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

Estética - OUSE SABER!

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1 2 0 Mu lit'l Foucault - Ditos c Escritos<br />

devido a esse abandono) poderíamos voltar a atenção para a<br />

palavra de Hölderlin: “Zeichen sind wir, bedeutungslos” e talvez,<br />

ainda mais além, para todos esses grandes e fugitivos simulacros<br />

que faziam cintilar os deuses no sol nascente, ou<br />

como grandes arcos de prata na profundeza da noite.<br />

Porque Le bain de D iane12 é, sem dúvida, de todos os textos<br />

de Klossowski o que mais se avizinha dessa luz ofuscante, mas<br />

para nós bastante sombria, de onde nos vêm os simulacros.<br />

Encontra-se de novo, nessa exegese de uma lenda, uma configuração<br />

semelhante à que organiza as outras narrativas, como se<br />

todas elas encontrassem ali seu grande m odelo mítico: um<br />

afresco anunciador como em La vocation; Acteão, sobrinho de<br />

Artemis, como Antoine o é de Roberte; Dionísio, tio de Acteão, e<br />

velho senhor da embriaguez, da discórdia, da m orte para sempre<br />

renovada, da perpétua teofania; Diana, duplicada por seu<br />

próprio desejo, Acteão, metamorfoseado ao m esm o tempo pelo<br />

seu e pelo de Artemis. E, entretanto, nesse texto consagrado à<br />

interpretação de uma lenda longínqua e de um m ito da distância<br />

(o homem castigado por ter tentado se aproxim ar da divindade<br />

nua), a oferenda está cada vez mais próxim a. Ali, os corpos<br />

são jovens, belos, intactos; eles fogem um na direção do outro<br />

com total convicção. Porque o sim ulacro tam bém se mostra<br />

em seu frescor cintilante, sem recurso ao enigm a dos signos.<br />

Os fantasmas são ali o acolhimento da aparência na luz original.<br />

Mas é uma origem que, por seu próprio m ovim ento, recua<br />

em um longínquo inacessível. Diana no banho, a deusa se disfarçando<br />

na água no momento em que se oferece ao olhar, não é<br />

apenas a evasiva dos deuses gregos, é o m om ento em que a unidade<br />

intacta do divino “reflete sua divindade em um corpo virginal”,<br />

e então se desdobra em um dem ônio que a faz, a distância<br />

dela mesma, aparecer casta e ao m esm o tem po a oferece à violência<br />

do Bode. E quando a divindade cessa de cintilar nas clareiras<br />

para se desdobrar na aparência em que ela sucumbe se<br />

justificando por isso, ela sai do espaço m ítico e entra no tempo<br />

dos teólogos. O vestígio desejável dos deuses se recolhe (ou talvez<br />

se perca) no tabernáculo e no jogo ambíguo dos seus signos.<br />

A pura fala do mito deixa, então, de ser possível. Com o transcrever<br />

daí em diante, em uma linguagem parecida com a nossa,<br />

a ordem perdida mas insistente dos sim ulacros? Fala inevita­<br />

12. Klossowski (P.). Le bain de Diane, Paris, Jean-Jacques Pauvert, 1956.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!