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Estética - OUSE SABER!

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1980 - Os Q uatro C avaleiros d o Apocalipse e os Verm es Cotidianos 379<br />

sionou - e talvez seja o que você quer dizer quando fala do caráter<br />

perverso do filme. Não falo da estética do filme, da qual nada<br />

conheço; ele conseguiu extrair uma certa beleza dessa história<br />

sem nada mascarar do que ela tinha de sórdido, de ignóbil, de<br />

cotidianamente abjeto. Foi talvez ali que ele apreendeu do nazismo<br />

o que ele tinha de mais maligno, uma certa intensidade de<br />

abjeção, um certo reflexo da mediocridade, que foi, sem dúvida,<br />

um poder de enfeitiçamento do nazismo.<br />

-Quando vi o film e , tive tam bém um sentimento estranho:<br />

a surpreendente revelação de que os Jovens viveram o nazismo<br />

como uma utopia, um a utopia verdadeira. Achei muito<br />

importante o fa to de que Syberberg não julga, não condena,<br />

mas torna sensível o fa to de que um homem “normalmente<br />

constituído", segundo as normas clássicas, possa ter sido<br />

um nazista.<br />

- Simone Veil disse, a propósito do filme feito sobre Eva<br />

Braun, e que foi divulgado há alguns dias pela televisão, que ele<br />

“banaliza o horror”. É absolutamente verdade, e o filme sobre<br />

Eva Braun, que foi feito por franceses, era por isso mesmo de causar<br />

total assombro. Ora, o filme de Syberberg faz o oposto, torna<br />

ignóbil o banal. Ele mostra, no que há de banal em uma certa<br />

maneira de pensar, em uma certa maneira de viver, em um certo<br />

número de quimeras do europeu comum dos anos 30, uma potencialidade<br />

para o aviltamento. Nessa medida, o filme é exatamente<br />

o oposto dos filmes que Simone Veil denunciava com razão.<br />

Gostaria que se pudesse um dia intercalar, entre tal e tal<br />

parte do filme de Syberberg, o filme sobre Eva Braun. Ele parece<br />

ser feito a partir de um cartão postal obsoleto, decente, agradável<br />

e entediante de uma honesta família burguesa da Europa em<br />

férias nos anos 1930. A qualidade do filme de Syberberg é justamente<br />

dizer que o horror é banal, que a banalidade comporta em<br />

si mesma dimensões de horror, que há uma reversibilidade entre<br />

o horror e a banalidade. O problema da literatura trágica e da<br />

filosofia é: qual estatuto dar aos quatro cavaleiros do Apocalipse?<br />

Serão eles os heróis suntuosos e negros que esperam o fim<br />

do mundo para fazer sua aparição? Sob que forma eles aparecem,<br />

com que rosto? A peste, os grandes massacres da guerra, a<br />

fome? Ou serão eles quatro pequenos vermes que temos no cérebro,<br />

dentro da cabeça, no fundo do coração?

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