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Estética - OUSE SABER!

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1984 - A rq u eo logia de um a Paixão 409<br />

seus livros, de sua vida com seus livros, que é o ponto central, o<br />

foco de sua atividade e de sua obra. A vida privada de um indivíduo,<br />

suas escolhas sexuais e sua obra estão ligadas entre si,<br />

não porque a obra traduza a vida sexual, mas porque ela compreende<br />

a vida tanto quanto o texto. A obra é mais do que a<br />

obra: o sujeito que escreve faz parte da obra.<br />

- O estu d o d e R o u s s e l n ã o o leuou a outros tem a s suscetí­<br />

veis de p ro lo n g a r s u a p e sq u isa .<br />

- Não, esse am or pela obra de Roussel permaneceu gratuito.<br />

No fundo, prefiro que seja assim. Não sou de forma alguma um<br />

crítico literário, não sou um historiador da literatura. Roussel,<br />

na época em que eu me ocupava com ele, era pouco conhecido,<br />

e não era considerado um grande escritor. Talvez essa seja a razão<br />

pela qual não tive escrúpulos em estudá-lo: não o fiz para<br />

Mallarmé nem para Proust. Escrevi sobre Roussel justamente<br />

porque ele estava só, um pouco abandonado e dormia em uma<br />

estante de José Corti. Então, veja: gostei muito de fazer esse<br />

trabalho e estou contente de não ter continuado. Se eu tivesse<br />

me proposto a fazer um estudo sobre um outro autor, eu teria<br />

tido um pouco a im pressão, sobretudo nos anos que se seguiram,<br />

de com eter uma espécie de infidelidade a Roussel e de<br />

normatizá-lo, tratá-lo com o um autor como os outros.<br />

-N e s s e livro, há u m certo vôo estilístico, um jo g o retórico en ­<br />

tre os capítulos. S e rá q u e e s s e estu d o era diferente não so m en ­<br />

te com o tem a, m a s ta m b é m na su a a b o rd a g em da escrita?<br />

- Sim. É de longe o livro que escrevi com mais facilidade,<br />

com mais prazer e m ais rapidamente, porque eu escrevo muito<br />

lentamente, recom eço sem parar, multiplico as emendas. Imagino<br />

que deva ser muito com plexo de ler, porque eu pertenço à<br />

categoria de autores que, quando escrevem espontaneamente,<br />

o fazem de m aneira um pouco embaralhada e são obrigados a<br />

simplificar. Nos outros livros, eu tentei com ou sem razão utilizar<br />

um certo tipo de análises, escrever de uma determinada<br />

maneira. Enfim, era muito mais voluntário, premeditado.<br />

Minha relação com meu livro sobre Roussel e para Roussel é<br />

verdadeiramente alguma coisa muito pessoal que me deixou<br />

muito boas lembranças. É um livro à parte em minha obra.<br />

Estou muito contente de que nunca ninguém tenha tentado explicar<br />

que, se eu tinha escrito o livro sobre Roussel, era porque<br />

eu tinha escrito o livro sobre a loucura, e que iria escrever sobre<br />

a história da sexualidade. Ninguém jamais prestou atenção nes-

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