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Estética - OUSE SABER!

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1964 - Debate sobre o Romance 1 3 5<br />

romance e Robbe-Grillet teriam sido descobertos. Essa oposição<br />

entre cor e extensão não é uma oposição fortuita; acredito<br />

que ela deva exprimir alguma coisa, pois Malebranche não se<br />

enganou totalmente, muito menos Descartes: a medida tinha<br />

um privilégio sobre a cor, já que, finalmente, foi a medida que<br />

permitiu uma ciência e, particularmente, uma ciência da cor.<br />

Finalmente, o que é a cor? Para os homens do século XX, embora<br />

fossem muito pouco físicos, a cor é uma freqüência, alguma<br />

coisa mensurável, uma oscilação. A medida, finalmente, venceu<br />

a cor, mas a cor se defendeu, já que, por sua vez, ela revelou<br />

que era alguma coisa muito resistente. Não é simplesmente um<br />

“sentimento da alma” , é alguma coisa que está no universo e<br />

que representa a energia, uma espécie de agressão que o homem<br />

sofre por parte do mundo. Dito de outra forma, na medida<br />

e na cor, o homem, o sujeito, o observador, o herói, se quisermos<br />

- o herói científico ou romanesco -, tem funções opostas.<br />

Na medida, o observador desloca o mundo, desloca um metro<br />

- como o Agrim ensor de Kafka (muito se criticou Rob-<br />

be-Grillet por sua escrita de agrimensor). Há também um agrimensor<br />

original que mede o mundo. Como ele faz? Ele desloca<br />

sempre um metro, um duplo decímetro. Em relação à cor é outra<br />

coisa, é o mundo que desloca o observador, que incide sobre<br />

ele, que o atinge, que o transforma de uma certa maneira,<br />

que lhe envia grandes quantidades de energia, ou de oscilações.<br />

E ao final dessa agressão vem explodir, de maneira bastante<br />

misteriosa, é preciso dizer - e isso permanece para nós, e mesmo<br />

para a ciência mais elaborada, bastante irracional a cor.<br />

Quando freqüências luminosas atingem um certo limiar, alguma<br />

coisa em nossas células cerebrais produz na realidade uma<br />

espécie de vapor, de fogo de artifício, produz a cor. Na cor, somos<br />

deslocados, transform ados: na medida, somos nós que<br />

deslocamos e transform am os.<br />

Finalmente, ao fim de tudo isso, o que se depreenderia? O interessante,<br />

através de todas essas investigações um pouco sinuosas,<br />

às vezes um pouco em ziguezague, em linha quebrada,<br />

de que Robbe-Grillet ou outros escritores contemporâneos procuram<br />

lançar mão, talvez não sejam somente os objetos (ou os<br />

homens). A oposição talvez não esteja entre saber se é preciso<br />

fazer romances humanos ou rom ances “objetivos”, se é preciso<br />

falar dos objetos ou dos homens, com o se houvesse uma espécie<br />

de escolha a fazer (de um lado, os ratos e, do outro, os ho-

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