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Estética - OUSE SABER!

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1982<br />

Pierre Boulez, a Tela Atravessada<br />

“Pierre Boulez, a tela a tra v e ssa d a ”, in Colin (M .), Leonardini (J.-P.), Markovits<br />

(J.), ed., D ix ans e t après. A lb u m s o u ven ir du fe s tiv a l d ’automne, Paris, Mes-<br />

sidor, Col. “T e m p s A ctu els”, 1982, ps. 232-236.<br />

Você me pergunta o que foi ter apreendido, pelo acaso e pelo<br />

privilégio de uma amizade fortuita, um pouco do que se passava<br />

na música, faz agora quase 30 anos? Eu era ali apenas um<br />

passante detido pelo afeto, uma certa perplexidade, curiosidade,<br />

o estranho sentimento de assistir ao que eu quase não era<br />

capaz de ser contemporâneo. Era uma sorte: a música estava<br />

então renegada pelos discursos do exterior.<br />

A pintura, nessa época, levava a falar; pelo menos, a estética,<br />

a filosofia, a reflexão, o gosto - e a política, se a memória não me<br />

falha - se sentiam no direito de dizer dela alguma coisa, e eles<br />

se obrigavam a isso como um dever: Piero delia Francesca, Ve-<br />

nise, Cézanne ou Braque. O silêncio, entretanto, protegia a música,<br />

preservando sua insolência. O que era, sem dúvida, uma<br />

das grandes transformações da arte no século XX permanecia<br />

fora de alcance para essas formas de reflexão que, em torno de<br />

nós, tinham estabelecido seus territórios, onde tendemos a adquirir<br />

nossos hábitos.<br />

Não mais do que naquela época, não sou capaz de falar da<br />

música. Somente sei que ter descoberto - e pela mediação de<br />

um outro, a maior parte do tempo - o que se passava com Bou-<br />

lez me permitiu sentir-me estrangeiro no mundo de pensamento<br />

em que eu havia sido formado, ao qual continuava a pertencer<br />

e que, para mim, como para muitos, tinha ainda sua evidência.<br />

Talvez as coisas sejam melhores assim: tivesse eu à minha<br />

volta meios para compreender aquela experiência talvez eu tivesse<br />

unicamente encontrado uma ocasião de repatriá-la para<br />

onde ela não existia.

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