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Estética - OUSE SABER!

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332 Michel Foucault - Ditos e Escritos<br />

- Essa história se reescreve, portanto, ao mesmo tempo cinematográfica<br />

e televisualmente, com debates como os dos<br />

Dossiers de 1’Écran (que escolheram por duas vezes em dois<br />

meses o tema: os Franceses sob a Ocupação). E. por outro<br />

lado, essa reescrita da história tam bém é fe ita por cineastas<br />

que são considerados como mais ou menos de esquerda. Há<br />

ali um problema a ser aprofundado.<br />

- Não acredito que as coisas sejam tão simples. O que dizia<br />

há pouco é muito esquemático. Retomemos.<br />

Há um verdadeiro combate. E o que está em jogo? É o que se<br />

poderia chamar grosseiramente de m em ória popular. É absolutamente<br />

verdadeiro que as pessoas, quero dizer, aquelas que<br />

nào têm o direito à escrita, de fazer elas próprias seus livros, de<br />

redigir sua própria história, aquelas pessoas têm, no entanto,<br />

uma maneira de registrar a história, de se lembrar dela, de vivê-la<br />

e de utilizá-la. Essa história popular era, até certo ponto,<br />

mais viva, mais claramente formulada ainda no século XIX,<br />

onde havia, por exemplo, toda uma tradição das lutas que se<br />

traduzia seja oralmente, seja através de textos, de canções etc.<br />

Ora. toda uma série de aparatos foi estabelecida (a “literatura<br />

popular”, a literatura barata, mas também o ensino escolar)<br />

para bloquear esse movimento da memória popular, e pode-se<br />

dizer que o sucesso desse empreendimento foi relativamente<br />

grande. O saber histórico que a classe operária tem dela própria<br />

não cessa de se reduzir. Quando se pensa, por exemplo,<br />

sobre o que os operários do fim do século XIX sabiam sobre sua<br />

própria história, sobre o que tinha sido a tradição sindical - no<br />

sentido estrito do termo tradição - até a guerra de 1914, era<br />

igualmente formidável. Isso não cessou de diminuir. Diminui,<br />

mas, no entanto, não se perde.<br />

Atualmente, a literatura barata não é mais suficiente. Há<br />

meios muito mais eficazes, que são a televisão e o cinema. E<br />

acredito que esta é uma maneira de recodificar a memória popular,<br />

que existe mas que não tem nenhum meio de se formular.<br />

Então, mostra-se às pessoas não o que elas foram, mas o<br />

que é preciso que elas se lembrem que foram.<br />

Como a memória é, no entanto, um importante fator de luta<br />

(é, de fato, em uma espécie de dinâmica consciente da história<br />

que as lutas se desenvolvem), se a memória das pessoas é mantida,<br />

mantém-se seu dinamismo. E mantém-se também sua experiência,<br />

seu saber sobre as lutas anteriores. É preciso não<br />

mais saber o que foi a Resistência...

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