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Estética - OUSE SABER!

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1964 - P o sfá c io a F la u b ert (A Ten ta çã o de Santo A n tã o] 85<br />

("E stá na T eh a id a ... a c a b a n a d o ere m ita o cu p a o fu n d o "),<br />

convida o leitor a se fazer espectador (2) de um palco de teatro<br />

cujo cenário está cuidadosam ente indicado (2 b is ); pode-se ver<br />

aí, em pleno centro, o velho anacoreta (3) sentado de pernas<br />

cruzadas, e que logo vai se levantar e apanhar um livro (3 b is),<br />

de onde vão escapar pouco a pouco visões inquietantes: ágapes,<br />

palácios, rainha voluptuosa, e finalm ente Hilarion, o insidioso<br />

discípulo (4); este abre para o Santo todo um espaço de visão (4<br />

bis) onde aparecem as heresias, os deuses e a proliferação de<br />

urna vida im provável (5). Mas isso não é tudo: os heréticos falam,<br />

narram seus ritos sem vergonha; os deuses evocam seu<br />

meio cintilante e lem bram o culto que se lhes rendia; os m ons­<br />

tros proclam am sua p róp ria selvageria; assim, impondo-se<br />

pela força de suas palavras ou de sua única presença, surge<br />

uma nova dim ensão, visão interior àquela que faz surgir ó satâ­<br />

nico discípulo (5 bis); aparecem assim o culto abjeto dos Ophi-<br />

tos, os m ilagres de A poloniu s. as tentações de Buda. o antigo e<br />

feliz reino de ísis (6). A partir do leitor real, tem os então cinco<br />

níveis diferentes, cinco “regim es" de linguagem, m arcados pe­<br />

las cifras b i s : livro, teatro, texto sagrado, visões e visões das vi­<br />

sões; tem os tam bém cinco séries de personagens, de imagens,<br />

de paisagens e fo rm a s17: o espectador invisível. Santo Antáo em<br />

seu retiro. H ilarion, dep ois os heréticos, os deuses e os m ons­<br />

tros, enfim, as som bras que nascem de seus discursos ou dc<br />

suas m em órias.<br />

Essa disposição de acordo com os recobrim entos sucessivos<br />

é m odificada - na verdade, confirm ada e com pletada por duas<br />

outras. A prim eira é a do recobrim cnto retrogrado: as figuras<br />

do nível 6 - visões de visões - deveriam ser as mais pálidas, as<br />

mais inacessíveis a uma percepção direta. Ora. elas estão, na<br />

cena. tão presentes, densas e coloridas, tão insistentes quanto<br />

aquelas que as precedem , ou quanto o próprio Santo Antão:<br />

com o se as lem branças brum osas, os desejos inconfessáveis<br />

que as fazem nascer do âm ago das prim eiras visões tivessem<br />

poder de agir, sem in term ediário, no cenário onde elas aparece­<br />

ram, na paisagem onde o erem ita e seu discípulo desenvolvem<br />

seu dialogo im aginário, na encenação que o espectador fictício é<br />

suposto ter sob seus olhos enquanto se desenrola esse qua-<br />

se-mistério. Assim , as ficções de ultim o nível se redobram so-<br />

17 ...th- personagens, m arcados pelos inuneios sim ples: o espectador...

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