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Estética - OUSE SABER!

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2 0 6 Mti lu l hYnu.uilt - D itos c E scritos<br />

Ha, portanto, dois centros que podem estruturar o quadro,<br />

conforme a atenção do espectador divague ou se detenha aqui e<br />

ali. A princesa está de pé no m eio de um a cruz de Santo André<br />

que gira em torno dela, com o turbilhão dos cortesãos, das damas<br />

de companhia, dos animais e dos bufões. M as esse giro<br />

está paralisado. Paralisado por um espetáculo que seria absolutamente<br />

invisível se esses m esm os personagens, subitamente<br />

imóveis, não oferecessem com o dentro de um a taça a possibilidade<br />

de olhar no fundo de um espelho o du plo im previsto de<br />

sua contemplação. No sentido da profu n didade, a princesa se<br />

sobrepõe ao espelho; no da altura, é o reflexo que se sobrepõe<br />

ao seu rosto. Mas a perspectiva os torna m uito próxim os um do<br />

outro. Ora, de cada um deles sai uma linha inevitável; uma, saída<br />

do espelho, transpõe toda a densidade representada (e até<br />

algo mais, pois o espelho abre a parede d o fundo e faz nascer<br />

atrás dele um outro espaço); a outra é m ais curta; ela vem do<br />

olhar da criança e atravessa apenas o p rim eiro plano. Essas<br />

duas linhas sagitais são convergentes, de a cord o com um ângulo<br />

muito agudo, e seu ponto de convergência, saltando da tela,<br />

se fixa na frente do quadro, quase ali de onde n ós o vem os. Ponto<br />

duvidoso, pois não o vem os; ponto inevitável e, no entanto,<br />

perfeitamente definido, pois é prescrito p o r essas duas figuras<br />

principais, e além disso confirm ado p o r outros pontilhados adjacentes<br />

que nascem do quadro e tam bém saem dele. Seus diversos<br />

pontos de origem varrem toda a extensão representada<br />

em um ziguezague que, da direita para a esquerda, inicialm ente<br />

se afasta e finalmente se aproxim a: são os olh os do pintor (no<br />

plano médio), os do visitante (no fundo), os da dam a de com panhia<br />

(à direita, quase atrás da infanta), os do cortesão (bem<br />

mais atrás na sombra) e, no p rim eiro plano, os da anã que junta<br />

as mãos. Todos esses olhares se d irigem para on de a princesa<br />

tem os olhos voltados e para onde retorn am as im agens do<br />

espelho.<br />

O que há, enfim, nesse lugar totalm ente in acessível, já que é<br />

exterior ao quadro, mas prescrito por todas as linhas de sua<br />

composição? Que espetáculo é esse, que rostos são esses que se<br />

refletem prim eiro no fundo das pupilas da infanta, depois dos<br />

cortesãos e do pintor e, finalm ente, na cla rid ad e longínqua do<br />

espelho? Mas a questão logo se desdobra: o rosto que o espelho<br />

reflete é igualmente aquele que o contem pla; o que todos os personagens<br />

do quadro olham são tam bém personagens, aos olhos

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