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Estética - OUSE SABER!

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1964 - Por Q ue se R eedita a Obra de Raym ond Rousscl? 181<br />

perpetuamente renovado de uma relação infinita entre as palavras<br />

e as coisas. A linguagem avançando produz sem parar novos<br />

objetos, faz em ergir a luz e a sombra, faz rachar a superfície,<br />

desarruma as linhas. Ela não obedece às percepções, traça-lhes<br />

um caminho e, em seu rastro tornado mudo, as coisas<br />

se põem a cintilar por elas mesmas, esquecendo que tinham<br />

sido, previamente, “faladas” . Modificadas desde o início pela<br />

linguagem, as coisas não têm mais segredo; e elas aparecem<br />

uma ao lado da outra, sem densidade, sem proporções, em um<br />

"palavra a palavra” que as deposita, todas iguais, todas igualmente<br />

desprovidas de mistério, todas laqueadas, todas tão angustiadas<br />

e obstinadas em estarem ali, na fina superfície das<br />

frases. Robbe-Grillet acaba de analisar admiravelmente, a propósito<br />

de Roussel, esse “lugar-comum" do olhar e da linguagem,<br />

além do qual não há nada a dizer nem a ver.1'2<br />

A outra face da obra de Roussel descobre uma forma de imaginação<br />

que quase não se conhecia Os jogos das Itnpressions<br />

d'Afríque. os m ortos de L o cu s solus não pertencem ao sonho<br />

nem ao fantástico. Estão mais próximos do 'extraordinário", à<br />

maneira de Júlio Verne; mas é um extraordinário minúsculo,<br />

artificial e imóvel: maravilhas da natureza fora de qualquer natureza,<br />

e construídas por engenheiros todo poderosos que teriam<br />

apenas o propósito de esculpir a história grega na espessura<br />

diáfana de um bago de uva. Júlio Verne. que não viajou, inventou<br />

o maravilhoso do espaço. Roussel. que deu a volta ao<br />

mundo (de cortinas fechadas, certamente, pois ele não gostava<br />

de olhar, e sua obra não lhe deixava tempo para o lazer), quis<br />

reduzir o tempo e o espaço ao glóbulo de uma mónada; e talvez,<br />

como Leibniz, tenha visto lagos tremerem em pedaços de mármore.<br />

Sabemos o que pode haver de perverso em uma imaginação<br />

retraída que não é irônica - quando o lirismo nos acostumou<br />

ao crescim ento infinito, às estepes, aos grandes tédios siderais<br />

(mas quão nobres).<br />

Mas Roussel. pouco antes de seu suicídio, preparou uma armadilha<br />

suplementar. Ele "revelou" como havia escrito essas<br />

narrativas maravilhosas cujo encantamento parecia. 110 entanto,<br />

residir somente nele mesmo. Ao mesmo tempo explicação e<br />

conselho para quem gostaria de fazer o mesmo: tomar uma fra-<br />

12. RobbtMirillel (A ), "Énigtnc et transparente chrz Rayinond Roussel". Critique.<br />

11 199, dezem bro de 1963, ps. 1.027-1 033.

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