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Estética - OUSE SABER!

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2 0 8 Mii-hel FYmoault - D ilo s c E scrito s<br />

mos). Essas três funções "contem pladoras” se confundem erri<br />

um ponto exterior ao quadro: ou seja, ideal em relação ao que é<br />

representado, mas perfeitamente real, pois é a p a rtir dele que<br />

se torna possível a representação com o m odelo, com o espetá­<br />

culo e como quadro. Nessa própria realidade, ele só pode ser<br />

invisível. E, no entanto, essa realidade é p rojeta d a no interior<br />

do quadro - projetada e difratada em três figuras que corres­<br />

pondem às três funções desse ponto ideal e real. S ão elas: à es­<br />

querda, o pintor com sua palheta na m ão (au to-retrato do autor<br />

do quadro): à direita, o visitante, com um p é n o degrau, prestes<br />

a entrar na sala: ele observa toda a cena p o r trás, m as vê de<br />

frente o casal real, que é o próprio espetáculo; no centro, enfim,<br />

o reflexo do rei e da rainha, param entados, im óveis, na atitude<br />

de modelos pacientes.<br />

Reflexo que mostra ingenuamente, e na som bra, o que todo<br />

mundo vê no primeiro plano. Ele restitui co m o p o r encanto o<br />

que falta a cada olhar: ao do pintor, o m o d elo que seu duplo re­<br />

presentado recopia no quadro; ao do rei, seu retrato que está<br />

sendo concluído sobre o lado da tela que ele não pode perceber<br />

de onde ele está; ao do espectador, o centro real da cena, cujo<br />

lugar ele ocupou como que por efração. M as talvez essa generosidade<br />

do espelho seja fingida; talvez escon da tanto ou m ais do<br />

que manifesta. O lugar onde o rei im p era com sua esposa é também<br />

o do artista e o do espectador: no fu n d o d o esp elh o poderiam<br />

aparecer - deveriam aparecer - o rosto an ôn im o do passante<br />

e o de Velásquez. Pois a função desse reflexo é atrair para<br />

o interior do quadro o que lhe é intim am ente estranho: o olhar<br />

que o organizou e aquele para o qual ele se m ostra. M as, por estarem<br />

presentes no quadro à direita e à esqu erda, o artista e o<br />

visitante não podem se situar no espelho: tal co m o o rei aparece<br />

no fundo do espelho, na própria m edida em que ele não pertence<br />

ao quadro.<br />

Na grande voluta que percorria o perím etro d o ateliê, desde o<br />

olhar do pintor, sua palheta, sua m ão suspensa até os quadros<br />

concluídos, a representação nascia, se concluía para se definir<br />

de novo na luz; o ciclo era perfeito. Em com pensação, as linhas<br />

que atravessam a profundidade do qu adro estão incompletas;<br />

falta a todas uma parte do seu trajeto. Essa lacuna é devida à<br />

ausência do rei - ausência que é um artifício do pintor. Mas<br />

esse artifício recobre e designa um espaço vazio que é imediato:<br />

o do pintor e o do espectador quando olham ou com põem o

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