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Estética - OUSE SABER!

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180 Mielu-l Foucault - Oitos o Escritos<br />

meiro ramo: obras descritivas {L a d o u b lu re 7, em 1897 e, sete<br />

anos mais tarde, La i>ue8); é o carnaval de Nice, é o cabeçalho de<br />

uní papel de cartas, a etiqueta de urna garrafa d agua de Évian,<br />

o que se vê na pequena lentícula de uma caneta, recordação<br />

comprada no bazar. Tudo isso em alexandrinos. A linguagem é<br />

estendida sobre as coisas; meticulosamente, ela lhes percorre<br />

os detalhes, mas sem perspectiva nem proporções; tudo é visto<br />

de longe, mas com um olhar táo penetrante, soberano e neutro<br />

que mesmo o invisível nela faz superfície em uma única luz<br />

imóvel e uniforme.<br />

Segundo ramo, as maravilhas das Im p ressio n s d 'A friq u e 9 e<br />

de Locus solus10. A mesma linguagem, estendida com o uma toalha<br />

de mesa, serve para descrever o impossível: um anão que mora<br />

em uma gaveta, um adolescente que, com os coágulos do seu<br />

sangue glauco, alimenta medusas, cadáveres gelados que repetem<br />

mecanicamente dentro de geladeiras o instante em que são<br />

mortos. Em seguida, outros corredores se form am : peças de<br />

teatro (que deram lugar a alguns belos escândalos surrealistas),<br />

um poema de parênteses encaixados, um curto fragmento<br />

autobiográfico.<br />

Para nos orientar nesse labirinto, pouca coisa nos resta - salvo<br />

algumas maravilhosas anedotas contadas por Leiris. Há a hipótese<br />

preguiçosa da linguagem esotérica. Para texto difícil, autor<br />

iniciado. Mas eis o que pouco nos adianta, nem tampouco<br />

saber que Roussel era louco, que ele apresentava belos sintomas<br />

obsessivos, que Janet o tratou, mas não curou. Loucura<br />

ou iniciação (os dois, talvez), tudo isso nada nos diz sobre a<br />

parte dessa obra que concerne à linguagem atual: lhe concerne<br />

e ao mesmo tempo recebe dela sua luz.<br />

La vue e Le v o y e u r " são dois textos aparentados. Tanto em<br />

Roussel como em Robbe-Grillet, a descrição não é de form a alguma<br />

a fidelidade da linguagem ao objeto, m as o nascimento<br />

7. Roussel (R.), La doublure. Paris. Lemerre, in 1897 (reed. Paris. Jean-Jacques<br />

Pauvert. 1963).<br />

8. Roussel (R.), La vue. Paris. Lemerre, 1904 (reed. Paris. Jean-Jacques<br />

Pauvert, 1963).<br />

9. Roussel (R.), Impressions d ’Afrique. Paris, Lemerre. 1910 (reed. Jean-Jacques<br />

Pauvert, Paris, 1963).<br />

10. Id., Locus solus. Paris, Lemerre, 1914 (reed. Paris, G allim ard. “Collection<br />

Blanche”, 1963).<br />

11. Robbe-Grillet (A.), L e uoyeur. Paris, Ed. de Minuit, 1955.

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