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Estética - OUSE SABER!

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162 Michel Foucault - D itos e E scritos<br />

tar a hipótese de que a metáfora seja o lado histórico da linguagem.<br />

Na medida em que, no caso de Robbe-Grillet, há essa recusa<br />

da metáfora, há. náo digo a recusa da historia, seria muito<br />

simplista, mas pelo menos a recusa de uma posição histórica<br />

muito precisa. A linguagem está tão cristalizada em certas metáforas.<br />

que condicionam tanto em urna perspectiva histórica,<br />

que. se quisermos sair de uma projeção daí por diante inteiramente<br />

imobilizada, inexpressiva, é preciso abolir a metáfora.<br />

Isso é evidentemente impossível, mesmo que se limite a coisa<br />

ao lado humanizante, pois, nesse momento, se propõem outras<br />

metáforas. Sou aristotélico. Ora, para Aristóteles, a metáfora é<br />

o sentido da poesia. Nesse momento, quando faço a proporção<br />

que está na base (A-B como C-D) da metáfora, a linguagem assume<br />

sua responsabilidade, estabeleço ligações. Gostaria de<br />

saber de Sollers em que sentido ele diz que a metáfora é interna<br />

à linguagem, e não uma relação. Se analiso a linguagem como<br />

tal, não encontro nenhuma metáfora ou, como você dizia há<br />

pouco, tudo é metáfora, o que dá no mesmo. Só compreendo<br />

que uma metáfora seja uma metáfora quando estabeleço uma<br />

relaçáo. não entre as palavras, mas entre significante e significado.<br />

ou seja, quando entro na história; se a metáfora se esgota,<br />

isso quer dizer evidentemente que ela não é interna à linguagem<br />

- quando digo "a cabeça do trem” emprego uma metáfora, a cabeça<br />

é para o corpo humano o que a locomotiva é para o trem,<br />

mas, nesse momento, faço uma escolha, e essa escolha fui eu<br />

quem a fez; mas isso se esgota, ou seja, a rigor, quando digo “a<br />

cabeça do trem”, de forma alguma penso em uma cabeça de homem,<br />

é a humanização contra a qual protesta Robbe-Grillet. E<br />

a recusa da tragédia, como eu dizia há pouco.<br />

O que me impressiona é que, em Kafka, é a mesma coisa.<br />

Pois, mesmo na linguagem de Kafka, sem ser teorizada, existe a<br />

recusa da metáfora. O que também me impressiona é que - e<br />

esta é toda a diferença - há, no entanto, a tragédia. Qual é a diferença?<br />

Acredito que ela está no ponto cego. Para Kafka, o ponto<br />

cego é bastante significante, ele significa alguma coisa em relação<br />

à qual eu sempre faço uma referência. Sei, mesmo que isso<br />

não seja declarado, mesmo que eu tenha muitas dúvidas sobre<br />

a identificação definitiva particular, sei exatamente o que é.<br />

Enquanto, em Robbe-Grillet, não o sei, nem o próprio Robbe-Grillet,<br />

nem ninguém. O que é a mancha na parede? É o ponto<br />

morto; isso não é dito, absolutamente. Mas o que é, não se

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