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Historia da litteratura Espirito-Santense [microform]

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trémulos de raiva se fizeram os fi<strong>da</strong>lgos: a mão no punho <strong>da</strong>s espa-<br />

<strong>da</strong>s, a voz convulsa, mostravam o palácio iliuminado de Donatello,<br />

o qual por aquella alta hora resoava como em rumor de festa.<br />

Por uma janella aberta, viram elles, com espanto, o vulto de<br />

uma mulher— Stella — condessa de Donatello, por esse hymenêo <strong>da</strong><br />

Morte que desliga os corpos para os unir de novo com o pesado<br />

grilhão de uma sau<strong>da</strong>de immortal.<br />

Poderiam tolerar — clamavam — que aquelle libertino, que trocava<br />

o combate áspero e a caça corajosa ás feras bravas por uma<br />

orgia nocturna, talvez com a plebe infrene, abraçado com a amante<br />

á janella, viesse ferir o orgulho de uma raça de nobres, quando elle<br />

os sabia ali em seos domínios, pois os annunciaram o ruido <strong>da</strong> atrelagem<br />

<strong>da</strong>s matilhas e a voz bem clara dos cornetins lança<strong>da</strong> aos<br />

ares como um desafio?!<br />

E o rumor foi grande quando alguein notou que aquelle vulto<br />

de mulher que tinham visto, tinha extrema semelhança com a rai-<br />

nha que lhes morrera mezes antes.<br />

Não a reconheceram elles, pois para lhe render vassallagem<br />

suas espa<strong>da</strong>s se abateriam.<br />

Foram brandi<strong>da</strong>s ao alto naquella noite em que a viram e tiveram<br />

no brilho sereno do luar uma única resposta ao seo insulto —<br />

o despreso solemne e grandíloquo de um silencio de céo.<br />

E uma ron<strong>da</strong> se fez em torno do palácio: muitas vezes adormeceram<br />

sobre o punho dos gládios, a cabeça pendi<strong>da</strong> em cogitações,<br />

sem que ouvido tivessem o rumor que ouvido tinham quando<br />

passaram para a montaria.<br />

Certa noite a figura de Stella — a rainha morta — assomou ao<br />

balcão do palácio de Donatello.<br />

Um luar aJgido. como que feito <strong>da</strong> pulverisação do mármore<br />

dos campos, lavava os altos céos.<br />

Na terra íllumina<strong>da</strong>, as arvores verde-negras, áquella clari-<br />

<strong>da</strong>de, tinham apparencias monstruosas de Poliphemos: claros aber-<br />

tos nas ramagens, varados pelo luar, pareciam os seos olhos.<br />

A rainha na sua veste fulgente de Ihama d'oiro, tinha a irradiação<br />

de um sol e no luar de prata, frio, aquelle calor do oiro<br />

accendia um clarão.<br />

Nos seos dedos afilados de morta, as gemmas rutilas dos an-<br />

neis tinham revérberos de escamas de serpentes.<br />

E o seo corpo floral e esguio como uma tulipa, corpo de soberano<br />

porte, dobrouse: sua cabeça pendeo ao receber o osculo de<br />

Donatello, como um hastil se dobra ao osculo do vento.<br />

E aquellas duas boccas presas uma na outra, como duas bor-

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