Pedagogia dos monstros - Apresentação
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processo móvel e instável. Tento levar esse argumento<br />
familiar um passo adiante, ao extrair algumas implicações<br />
da observação de Julia Kristeva (1982, p.<br />
11) de que o “abjeto beira o sublime”. Onde os dois<br />
se sobrepõem é em sua preocupação com questões de<br />
limiaridade e em sua subversão de quaisquer fronteiras<br />
simbólicas fixas. Essa é a fonte de seu terror, quer<br />
ela tome a forma de repulsão quer a forma de reverência.<br />
Começo, pois, explorando o gênero literário e cinemático<br />
do fantástico: suas características definidoras<br />
são a incerteza sobre categorias e fronteiras familiares,<br />
e as ilusões da percepção. Analiso, depois, o sublime<br />
como uma pretensão à autoridade cultural no pensamento<br />
ocidental que vai <strong>dos</strong> românticos ao pós-modernismo.<br />
Isto abre uma nova perspectiva sobre o<br />
“popular” e sobre a “comunidade”, uma perspectiva<br />
que tem implicações tanto políticas quanto culturais.<br />
O FANTÁSTICO E O ESTRANHO<br />
A forma usual de tentar explicar as fábulas de horror<br />
e terror na literatura e no cinema consiste em perguntar:<br />
o que o monstro significa? Em seu ensaio “A dialética do<br />
medo”, Franco Moretti (1983, p. 105), por exemplo,<br />
invoca Marx e Freud para diagnosticar o que está contido<br />
nas metáforas monstruosas de Frankenstein e Drácula.<br />
Ele argumenta que são me<strong>dos</strong> econômicos,<br />
psíquicos e sexuais específicos. A relação entre o capitalista<br />
e o proletariado transforma-se na relação entre<br />
Frankenstein e sua criação. No lugar do monstro de<br />
Frankenstein leia-se um “trabalhador da Ford”, diz Moretti;<br />
trata-se do medo relativamente a uma criação dependente,<br />
embora potencialmente — e perigosamente<br />
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