Pedagogia dos monstros - Apresentação
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abjeto, o desprezado, o obsceno, o híbrido e o monstruoso.<br />
Este lado sombrio da modernidade é outro<br />
sinal da impossibilidade reconhecida por Freud. O eu<br />
não se adapta perfeitamente às normas sociais, apesar<br />
das técnicas cada vez mais generalizadas da educação,<br />
do governo ou da terapia.<br />
Neste ensaio introdutório, como um trailer <strong>dos</strong><br />
temas que explorarei com mais detalhes nos outros<br />
capítulos, examino um exemplo de como a tensão entre<br />
as tecnologias da adaptação, de um lado e, de outro,<br />
a impossibilidade de se obter um perfeito ajuste entre o<br />
eu e a sociedade têm estado presente no pensamento<br />
cultural pós-iluminista. Trata-se do imaginário social<br />
discernível nos escritos de Rousseau sobre a “criança”<br />
e o “cidadão”, e suas prescrições para as formas<br />
de educação que lhes seriam apropriadas.<br />
ILUMINISMO E EDUCAÇÃO<br />
Kant via a educação como uma forma de libertar o<br />
“homem” da tutelagem e da dependência às quais a<br />
ignorância o condenam. Esta liberdade só pode ser<br />
obtida, entretanto, através da socialização, ao se aprender<br />
a recuperar o que é natural. “O homem só pode se<br />
tornar homem pela educação”, ele escreveu. “Ele é<br />
meramente o que a educação faz dele” (KANT, 1960,<br />
p. 7, 28). Ser um “homem” é agir livremente. Mas<br />
para ser capaz de agir livremente, para se tornar o que<br />
ele já é em essência, o “homem” tem que passar por<br />
um processo de socialização, que pode ser a educação<br />
formal ou a educação sentimental da experiência biográfica.<br />
Na escolarização, Kant insiste, a capacidade da<br />
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