Pedagogia dos monstros - Apresentação
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e terror. Como o estranho, seus principais temas são a<br />
morte e o sobrenatural: eis aqui uma possível ponte<br />
entre Burke e Freud. O que o gótico acrescenta — especialmente<br />
através do absurdo e do excesso de sua parafernália<br />
— é uma nova relação com a representação. Ao<br />
reforçar a artificialidade de seus elementos sobrenaturais,<br />
argumenta-se, o sublime do gótico do Castelo de<br />
Otranto pressagia a visão de Freud de que o terror não<br />
depende da crença na realidade daquilo que nos amedronta.<br />
Walpole vai além de Burke ao usar esses elementos<br />
ficcionais, essas representações como um meio<br />
de expressar e de evocar aquilo que não pode ser representado<br />
— neste caso, os materiais do inconsciente. 3<br />
Em seu clássico estudo da Agonia romântica,<br />
Mario Praz traçou a nobre trajetória que parte dessa<br />
ênfase gótica antialegórica e vai dar na arbitrariedade<br />
da significação tal como foi incorporada na obra<br />
<strong>dos</strong> Românticos, <strong>dos</strong> Simbolistas e do Movimento<br />
Decadentista, o que sugere uma outra rota para um<br />
sublime apropriadamente modernista, abstraidor.<br />
Mas, de novo, sigo a trajetória mais humilde, na qual<br />
a fascinação romântica com o horror e a perversidade<br />
alimenta-se de — e reanima — tradições mais<br />
populares. A narrativa de como o Frankenstein de<br />
Mary Shelley e o Vampiro byrônico de Polidori foram<br />
escritos é agora suficientemente conhecida, mas<br />
vale a pena observar quão rapidamente essas duas<br />
histórias foram absorvidas pelo teatro popular. O fato<br />
de que na metade <strong>dos</strong> anos 1820 era possível ver um<br />
programa duplo de adaptações dramáticas de Frankenstein<br />
e de O vampiro na English Opera House, em Londres,<br />
sugere o marco seguinte nessa história de um<br />
sublime vulgar: o melodrama.