Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
102<br />
o suposto “fracasso” das garotas em Matemática, na<br />
escola secundária, não pode ser explicado seja por<br />
noções psicológicas de desenvolvimento, seja por uma<br />
ênfase mais sociológica nas expectativas da professora,<br />
seja ainda pelos estilos pedagógicos. Esse processo<br />
envolve um dinâmica muito mais complexa entre o<br />
pedagógico e o performativo. Nas práticas da escola e<br />
da família — e especialmente na relação entre mãe e<br />
filha — as categorias legitimadas da racionalidade e<br />
da irracionalidade, da masculinidade e da feminilidade,<br />
da inteligência e da falta de inteligência, do domínio<br />
e da subserviência, da obediência e da resistência<br />
são instituídas em uma relação mútua. Elas são re-misturadas<br />
pelas garotas como cenários fantasmáticos de desejo,<br />
negação e transgressão que retornam não apenas<br />
como auto-identificação, mas como agência. É nessa<br />
formação e nesse exercício de uma autonomia que é<br />
imposta às garotas que, de acordo com esta evidência,<br />
os danos sociais e psicológicos da diferenciação sexual<br />
são sistematicamente reproduzi<strong>dos</strong>. Esta não é uma<br />
leitura formalista que se limita a deduzir a posição de<br />
sujeito das práticas institucionais da escola e <strong>dos</strong> discursos<br />
que aí estão disponíveis. Em vez disso, o foco<br />
está no sujeito sexualmente diferenciado sempre-a-serproduzido,<br />
sempre-a-ser-encenado no interior de disciplinas,<br />
tecnologias e sistemas simbólicos. 4<br />
Esta perspectiva coloca em questão a imagem da<br />
alma do cidadão vista como controlada ou mesmo regulada<br />
pela maquinaria do governo. Em vez disso, ela<br />
reformula o problema como a encenação da maquinaria<br />
e da alma, da normalidade e da realidade, e da autoridade<br />
e da agência, sempre em uma dinâmica relação<br />
mútua. Os imprevisíveis resulta<strong>dos</strong> dessa enunciação