Pedagogia dos monstros - Apresentação
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O POPULAR<br />
Não que Lyotard tenha muito a dizer sobre a espécie<br />
de cultura popular sobre a qual estive falando.<br />
Ele é tão incansavelmente hostil ou pouco simpático<br />
para com ela quanto Adorno em seu estado de espírito<br />
mais rabugento. Mais interessante é a forma pela<br />
qual ele trabalhou a tensão que ele identifica entre a<br />
demanda por universalidade e a imposição da identidade<br />
em relação à idéia do “popular”. Em Au Juste,<br />
por exemplo, ele utiliza a tradição popular da narração,<br />
na tribo cashinahua da Amazônia, como um exemplo<br />
de uma base pragmática para a ética, que ele vê como<br />
uma alternativa para a clássica explicação ocidental em<br />
termos de lei e autonomia. O narrador cashinahua não<br />
é autônomo na medida em que ele deve ser, primeiramente,<br />
um narrado; ele tem que ouvir sua estória antes<br />
que possa contá-la. Ele é, assim, autorizado antes que<br />
seja um autor. Ele se torna um transmissor na tradição,<br />
apenas identificando-se ao final da narração: “quando<br />
ele dá seu nome próprio, o narrador designa-se como<br />
alguém que foi narrado pelo corpo social”. Para Lyotard,<br />
esta é uma tradição popular na medida em que a<br />
narrativa não se torna codificada, mas tem que ser constantemente<br />
reiventada à medida que é repetida. Ela<br />
impõe uma obrigação para narrar, mas isto não é mesma<br />
coisa que a imposição de um conteúdo ou de uma<br />
identidade cultural particular:<br />
A característica relevante não é a fidedignidade; não<br />
é porque se conservou a história tão bem que se é<br />
um bom narrador; ao menos no que tange às narrativas<br />
profanas. Pelo contrário, é porque se “enfeita”,<br />
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