Pedagogia dos monstros - Apresentação
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instituídas no interior das tecnologias sociais e culturais<br />
são imaginadas no inconsciente de modo que<br />
elas “emergem” não apenas como “desejos pessoais”,<br />
mas em uma dinâmica complexa e impredízivel<br />
de desejo, culpa, ansiedade e deslocamento. Os<br />
sujeitos têm desejos que eles não querem ter; eles os<br />
rejeitam ao custo da culpa e da ansiedade. Os sujeitos<br />
são, assim, separa<strong>dos</strong> de desejos que permanecem<br />
incita<strong>dos</strong> mas não realiza<strong>dos</strong>. É apenas na<br />
separação que acompanha a interiorização de fantasias<br />
e desejos incita<strong>dos</strong> mas proibi<strong>dos</strong> que a<br />
consciência e o ego são forma<strong>dos</strong>. Esta criação do<br />
inconsciente através da repressão é, assim, também o<br />
momento de individuação que possibilita a agência<br />
consciente, intencional, autônoma, nos termos<br />
de identificação estabeleci<strong>dos</strong> através da autoridade<br />
da maquinaria social. (p. 94)<br />
Agora, sem rejeitar as observações locais de Donald,<br />
existe uma série de problemas a perturbar o<br />
modelo geral no qual elas estão enquadradas. Em primeiro<br />
lugar, análises recentes sugerem que o mecanismo<br />
de repressão descrito nessa passagem, longe de<br />
ser uma característica geral da formação do sujeito, é<br />
uma prática associada com uma cultura histórica particular<br />
e com um departamento específico da existência<br />
no interior daquela cultura. O estudo de Peter<br />
Brown (1988) sobre a espiritualidade cristã do início<br />
do cristianismo, por exemplo, sugere que a ambivalente<br />
problematização do desejo — fazendo surgir tantos<br />
<strong>dos</strong> efeitos psíquico-morais menciona<strong>dos</strong> por<br />
Donald — emergiram, inicialmente, como um aspecto<br />
do “treinamento espiritual” sectário, moldado por<br />
práticas ascéticas especializadas e pela cosmografia<br />
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