Pedagogia dos monstros - Apresentação
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No último texto que escreveu, Freud pesarosamente<br />
reconheceu, como tinha feito em várias ocasiões anteriores,<br />
os limites e as frustrações de seu trabalho: “É<br />
quase como se a análise fosse a terceira daquelas profissões<br />
‘impossíveis’ nas quais se pode estar antecipadamente<br />
certo de que se vai obter resulta<strong>dos</strong> pouco<br />
satisfatórios. As outras duas, conhecidas há muito mais<br />
tempo, são a educação e o governo” (FREUD, 1953-66,<br />
p. 248). Talvez ele estivesse pensando na perplexidade<br />
de um filósofo mais antigo: “Existem duas invenções<br />
humanas que podem ser consideradas mais difíceis que<br />
quaisquer outras”, havia advertido Kant, “a arte do<br />
governo e a arte da educação; e as pessoas continuam a<br />
discutir inclusive seu significado” (KANT, 1960, p. 12).<br />
Este livro1 é uma contribuição a essa perene discussão:<br />
uma outra tentativa de responder a algumas das<br />
mais óbvias — mas ainda não resolvidas — questões.<br />
Que tipo de instituição é a educação? Como ela está<br />
relacionada à “arte do governo”? Por que são ambas<br />
tão difíceis não apenas de exercer mas até mesmo de<br />
definir? Embora eu partilhe com Freud e Kant sua justificada<br />
perplexidade, essa constatação não nos deve<br />
levar a um incapacitante pessimismo. Pelo contrário,<br />
isto nos permite pensar em uma alternativa tanto ao<br />
conservadorismo que vê to<strong>dos</strong> os esquemas de reforma<br />
como fracassa<strong>dos</strong>, quanto àquele radicalismo evangélico<br />
para o qual a educação promete não apenas justiça<br />
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