Pedagogia dos monstros - Apresentação
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Sob essa luz, a escolarização pode ser vista como o<br />
paradigma das modernas técnicas de governo. Ela age<br />
através do acionamento de um conhecimento íntimo<br />
<strong>dos</strong> indivíduos que formam sua população-alvo e de<br />
uma expertise no monitoramento e direcionamento de<br />
sua conduta. Nikolas Rose descreve este exercício pastoral<br />
do poder em Governing the soul:<br />
Os sistemas conceituais inventa<strong>dos</strong> pelas Ciências<br />
“Humanas” — as linguagens da análise e da explicação<br />
que elas inventaram, os mo<strong>dos</strong> de falar sobre a<br />
conduta humana que elas constituíram — têm fornecido<br />
os meios pelos quais a subjetividade e a intersubjetividade<br />
humanas podem entrar nos cálculos<br />
da autoridade. Por um lado, os elementos subjetivos<br />
da vida humana podem se tornar elementos no interior<br />
das compreensões da economia, da organização,<br />
da prisão, da escola, da fábrica e do mercado de<br />
trabalho. Por outro, a própria psique humana tornou-se<br />
um domínio possível para o governo sistemático<br />
em busca de fins sociopolíticos. Educar, curar,<br />
reformar, punir — trata-se, sem dúvida, de velhos<br />
imperativos. Mas os novos vocabulários forneci<strong>dos</strong><br />
pelas ciências da psique permitem que as aspirações<br />
do governo sejam articuladas em termos de uma administração<br />
sujeita ao conhecimento das profundezas<br />
da alma humana (ROSE, 1990, p. 7).<br />
Esta atitude cética para com a política da expertise<br />
torna clara a lógica da educação progressista. O Relatório<br />
Plowden, de 1967, por exemplo, institui uma<br />
justificativa poderosa e influente para a adoção — na<br />
escola primária — de uma abordagem “centrada-nacriança”.<br />
Na página 1, proclama-se o axioma rousseauniano<br />
de que “por trás de todas as questões está a<br />
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