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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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fórmula abstrata, inscrita sobre ou sob a superfície da<br />

consciência: é o produto de nosso treinamento em um<br />

dispositivo formulaico ou rotina de cálculo particular<br />

(“com prática infindável, com exatidão implacável”)<br />

que não está, ele próprio, sujeito aos procedimentos<br />

que chamamos de “conhecer”.<br />

É sob essa luz que precisamos examinar o argumento<br />

de Mauss (1985) de que o sujeito é produto<br />

de instituições religiosas e morais peculiares ao Ocidente.<br />

A capacidade para problematizar as nossas condutas<br />

e habilidades, relacionando-as ao princípio<br />

interno do auto-escrutínio e do controle ético é, na<br />

verdade, uma real capacidade, mas ela não é a fundação<br />

dessas habilidades e não está por detrás de to<strong>dos</strong><br />

os departamentos da vida. Na verdade, esta capacidade<br />

é produto de técnicas e práticas éticas especiais —<br />

as “técnicas da consciência”, discutidas por Mauss e<br />

Brown — e surgem de um departamento ou modo de<br />

vida particular, aquele da auto-reflexão e cultivação. A<br />

história e a antropologia nos mostram que nem todas<br />

as habilidades humanas passam pela problematização<br />

moral introspectiva, em todas as épocas e em todas as<br />

culturas. Além disso, o fato de que, sob circunstâncias<br />

culturais e históricas especiais, as condutas são assim<br />

problematizadas não é um sinal da descoberta de um<br />

eu (consciente ou inconsciente). Antes ele indica mudanças<br />

nos alvos e propósitos da autocultivação ética<br />

— como podemos ver na análise, feita por Brown, da<br />

mudança, na Antiguidade Tardia, no foco da problematização<br />

ética: da comida para o sexo. Não existe,<br />

assim, nenhum “sujeito” geral da natação ou da álgebra<br />

ou do ofício de colocar tijolos, na medida em que os<br />

indivíduos podem adquirir esses e toda uma série de

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