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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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cristã-platônica. Donald está, naturalmente, correto<br />

em insistir que o mecanismo de repressão e de formação<br />

do sujeito é irredutível às tecnologias do estado<br />

moderno. Mas esta irredutibilidade não tem nada a<br />

ver com a resistência que se diz que essas tecnologias<br />

encontrarão no inconsciente que supostamente formam.<br />

Ela deriva, antes, do fato de que a ascese da<br />

repressão e a conduta interna que faz surgir precedem<br />

às modernas tecnologias de governo por um<br />

longo tempo e, na verdade, pertencem a um departamento<br />

bastante distinto da existência.<br />

Brown (1988, p. 178-9) mostra que a identificação<br />

da conduta sexual como o objeto principal da preocupação<br />

moral, juntamente com as práticas da virgindade<br />

e da abstinência, que permitiam que os virtuosi éticos<br />

trabalhassem seus desejos “corporais”, transformandoos<br />

em instrumentos de elevação espiritual, pertencem a<br />

uma prática histórica particular de santidade. A particularidade<br />

dessa prática torna-se clara através da comparação<br />

com um virtuoso pagão retardatário como<br />

Plotinus, para quem a preocupação ética principal era<br />

o puro desejo corporal por carne vermelha. Se Brown<br />

está correto, constitui, então, uma contingência histórica<br />

que os ocidentais mais modernos cultivam seus eus<br />

desejantes por meio da introspecção sexual e não do<br />

vegetarianismo, embora se trate de uma contingência<br />

que ajuda a nos tornar o tipo de seres que por acaso<br />

somos. A generalização teórica que Donald faz da ascese<br />

repressão-intensificação deixa de compreender tanto<br />

sua especificidade inicial quanto a contingência<br />

histórica de sua subseqüente distribuição, através das<br />

pedagogias religiosas e seculares do Ocidente.

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