Pedagogia dos monstros - Apresentação
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que, em qualquer formação social, permanece impermeável<br />
a essas demandas normativas. É o carnaval de<br />
Bakhtin ou as inventivas táticas de consumo de Michel<br />
de Certau. O próprio Lyotard aproxima-se dessas imagens<br />
quando ele caracteriza sua Idéia do “povo” como<br />
“o nome das frases heterogêneas que mutuamente se<br />
contradizem e são mantidas juntas por sua própria contrariedade”<br />
(LYOTARD, apud CARROLL, 1987, p. 106).<br />
Esta ambigüidade entre normatividade e heterogeneidade<br />
pode ser vista não apenas no desdobramento<br />
político do “popular”, mas também em argumentos<br />
estéticos ou culturais. Sua mobilidade é uma outra coisa<br />
que “o popular” partilha com “o sublime”. Em um<br />
gesto lyotardiano, podemos ver ambos os termos como<br />
nomeando possíveis movimentos no interior <strong>dos</strong> jogos<br />
de linguagem da política e da estética. Sua justaposição<br />
torna-se, pois, um tipo de “jogada do cavalo”, um avanço<br />
que evita as categorias dadas de qualquer um desses<br />
jogos e alterna entre os dois, usando as regras de um<br />
jogo como princípio de julgamento e cálculo no outro.<br />
Na estética, aproximar o sublime através do popular<br />
imediatamente corrói a diferenciação kantiana entre esferas,<br />
ao realçar as instituições de produção cultural, os<br />
aspectos sociológicos das comunidades de gosto e a<br />
força política do capital cultural, lançando, também, uma<br />
nova luz sobre o investimento de Lyotard no sublime<br />
modernista. Julgada da perspectiva, digamos, da sociologia<br />
ao gosto de Pierre Bourdieu, 8 não é esta estética<br />
tão autoritária quanto qualquer outra?<br />
Tentemos pensar isto de forma inversa. Como uma<br />
estética popular apareceria da perspectiva do sublime<br />
lyotardiano? À primeira vista, sem dúvida, ela parece<br />
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