Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
114<br />
para a análise do cinema é que o fantástico exige que o<br />
leitor (ou o espectador) funcione em um registro de<br />
incerteza cognitiva. Isso se aplica perfeitamente a um<br />
filme como O vampiro, de Carl-Theodor Dreyer (1931).<br />
Ao jogo de alternância entre tomadas feitas a partir de<br />
um ponto de vista e tomadas “impessoais”, ele acrescenta<br />
uma terceira e desconcertante perspectiva, na qual<br />
a câmera parece deslocar-se de um modo arbitrário e<br />
agir como um observador não-identificado e sem motivação.<br />
Hesitações similares podem ocasionalmente<br />
ser encontradas em filmes mais populares — o filme<br />
Cat people (A marca da pantera), de Val Lewton e Jacques<br />
Tourneur, utiliza uma variedade de dispositivos<br />
cinemáticos para manter a audiência tentando adivinhar<br />
se a heroína realmente se transforma em uma<br />
gata selvagem ou se seu comportamento pode ser explicado<br />
psicologicamente como sendo o efeito de uma<br />
sexualidade reprimida —, mas como regra os filmes<br />
de horror populares aderem firmemente às convenções<br />
da verissimilitude cinemática. Além disso, embora<br />
Todorov sugira que as fábulas fantásticas do<br />
século XIX representavam a “má consciência dessa era<br />
positivista”, seu foco nas características e nas técnicas<br />
formais tende a deixar sem resposta muitas das questões<br />
sobre “história” e sobre “ideologia”. 1<br />
É possível combinar a ênfase de Todorov nos mecanismos<br />
textuais da incerteza e na “fragilidade <strong>dos</strong> limites”<br />
no proceso de “multiplicação da personalidade”<br />
com a preocupação mais materialista que Moretti e<br />
Wood têm com a especificidade histórica de personagens<br />
monstruosas? Em um ensaio sobre a mobilidade<br />
social e o fantástico no cinema mudo alemão, Thomas<br />
Elsaesser (1989) argumenta que a história não é