Pedagogia dos monstros - Apresentação
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Vivemos em uma época que corretamente renunciou<br />
à Teoria Unificada, uma época na qual nos<br />
damos conta de que a história (tal como a “individualidade”,<br />
a “subjetividade”, o “gênero”, a “cultura”) é<br />
composta de uma variedade de fragmentos e não de<br />
inteiros epistemológicos sem rachaduras ou imperfeições.<br />
Alguns fragmentos serão aqui recolhi<strong>dos</strong> e<br />
temporariamente cola<strong>dos</strong> para formar uma rede frouxamente<br />
integrada — ou, melhor, um híbrido inassimilado,<br />
um corpo monstruoso. Em vez de desenvolver<br />
uma “teoria da teratologia”, eu lhes apresento um conjunto<br />
de postula<strong>dos</strong> desmembráveis de momentos<br />
culturais específicos. Apresento-lhes sete teses, para<br />
que comecemos a compreender as culturas por meio<br />
<strong>dos</strong> <strong>monstros</strong> que elas geram.<br />
TESE I:<br />
O CORPO DO MONSTRO<br />
É UM CORPO CULTURAL<br />
Vampiros, enterro, morte: enterre o cadáver onde a<br />
estrada se bifurca, de modo que quando ele se erguer do<br />
túmulo não saberá que caminho tomar. Crave uma estaca<br />
em seu coração: ele ficará pregado ao chão no ponto<br />
de bifurcação, ele assombrará aquele lugar que leva a<br />
muitos outros lugares, aquele ponto de indecisão. Decapite<br />
o cadáver, de forma que, acéfalo, ele não se reconheça<br />
como sujeito, mas apenas como puro corpo.<br />
O monstro nasce nessas encruzilhadas metafóricas,<br />
como a corporificação de um certo momento cultural<br />
— de uma época, de um sentimento e de um lugar. 1<br />
O corpo do monstro incorpora — de modo bastante