Pedagogia dos monstros - Apresentação
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perturbador paradoxo que subjaz à retórica generalizada<br />
que liga a maquinaria do governo à alma do cidadão.<br />
O problema é o movimento e a transmigração<br />
entre as duas categorias, a forma com que uma delas<br />
está sempre se transformando na outra. Em Metropolis,<br />
não se trata apenas do fato de que a máquina entra de<br />
forma demasiado profunda nas almas <strong>dos</strong> operários. O<br />
fantasma toma de assalto também a maquinaria do robô.<br />
Isto sugere uma visão estranha do que significa<br />
ser um ator social: uma descrição quase que de ficção<br />
científica do axioma de Rousseau de que o caráter “natural”<br />
de uma pessoa precisa ser sistematicamente mutilado<br />
para moldá-lo às demandas da cidadania<br />
(ROUSSEAU, apud OLDFIELD, 1990, p. 186). Hoje, na<br />
era <strong>dos</strong> computadores, <strong>dos</strong> videocassetes e das máquinas<br />
de fax, a imagem do robô de Lang pode parecer<br />
uma tecnologia de “lata velha”. A fronteira entre o<br />
exterior da máquina e o interior da alma torna-se ultrapassada<br />
pela circulação eletrônica da informação.<br />
A nova crise de limiaridade e os problemas de autoridade<br />
que ela coloca são dramatiza<strong>dos</strong> em um filme de<br />
ficção científica mais recente, o Blade runner (1982),<br />
de Ridley Scott. Seus replicantes quase-humanos, ou<br />
“skin jobs”, não agem simplesmente através de um programa<br />
preestabelecido nem respondem simplesmente<br />
a instruções. Eles são capazes de uma ação intencional<br />
que não é, obviamente, atribuível a uma capacidade<br />
inata ou natural para a razão e a agência. Em vez<br />
disso, eles são individua<strong>dos</strong> pela implantação da memória,<br />
um inconsciente artificial que governa a relação<br />
do eu com um eu aparentemente anterior.<br />
Donna Haraway descreve as potencialidades dessa<br />
hibridização em sua imagem do cidadão como ciborgue<br />
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