Pedagogia dos monstros - Apresentação
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existência de uma agência consciente, intencional, autônoma,<br />
nos termos da identificação estabelecida através<br />
da autoridade da maquinaria social.<br />
Neste modelo revisto, a repressão <strong>dos</strong> desejos é tão<br />
importante à formação da subjetividade quanto seu<br />
incitamento: trata-se de um mecanismo que determina<br />
a forma de expressão do material reprimido e que<br />
provoca sua repetição. Ian Hunter e Nikolas Rose apresentam<br />
o desejo não apenas como um efeito da maquinaria<br />
do social, mas também como sua realização.<br />
Estou argumentando que é apenas através da repressão,<br />
do inconsciente e da divisão do sujeito — to<strong>dos</strong><br />
os culpa<strong>dos</strong> segre<strong>dos</strong> do amor, da consciência e da<br />
fantasia — que a autoridade das instituições e das disciplinas<br />
pode ser assegurada, mesmo que precariamente.<br />
Desta perspectiva, que também pode reivindicar a<br />
ascendência de Mauss, as respostas psíquicas individuais<br />
são traduções de um sistema simbólico coletivo,<br />
mas não estão em uma relação isomórfica com ele. 3<br />
A divisão — e não a distância — “entre a normalidade<br />
e a realidade” é que coloca em ação, assim, um<br />
movimento ou uma série de transações. O inconsciente<br />
é necessário para compreender o processo de negociação<br />
da autoridade como agência e as traduções do<br />
pedagógico no performativo, mas ele não é um núcleo<br />
de autenticidade oculta, o eu real, a natureza<br />
humana. Nos termos de Lacan, não se trata da “intimidade”,<br />
mas da “ex-timidade”. Nos termos de Lévi-<br />
Strauss, o inconsciente fornece “o caráter comum e<br />
específico <strong>dos</strong> fatos sociais”:<br />
O inconsciente seria, assim, o termo mediador entre o<br />
eu e os outros. Descendo aos da<strong>dos</strong> do inconsciente, a<br />
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