Pedagogia dos monstros - Apresentação
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deve também agir como autor e sujeito de sua própria<br />
conduta. Esta liberdade ambivalente — nunca heteronomia<br />
absoluta nem autonomia pura — é necessária<br />
porque a maquinaria do governo só pode trabalhar em<br />
cima da agência e da autonomia:<br />
“Governo”... designava o modo pelo qual a conduta<br />
<strong>dos</strong> indivíduos ou de grupos podia ser dirigida: o governo<br />
das crianças, das almas, das comunidades, das<br />
famílias, <strong>dos</strong> doentes. Cobria não apenas as formas legitimamente<br />
constituídas de sujeição política ou econômica,<br />
mas também mo<strong>dos</strong> de ação, mais ou menos<br />
considera<strong>dos</strong> e calcula<strong>dos</strong>, que estavam destina<strong>dos</strong> a<br />
agir sobe as possibilidades de ação de outras pessoas.<br />
Governar, neste sentido, é estruturar o campo possível<br />
de ação de outros (FOUCAULT, 1982, p. 221).<br />
A liberdade aparecem assim, não como a característica<br />
inata de um indivíduo transcedente, mas como a<br />
negociação que produz individuação. Foucault chama<br />
isso de agonismo: “uma relação que é, ao mesmo tempo,<br />
incitação recíproca e luta; menos uma confrontação<br />
face a face que paralisa ambos os la<strong>dos</strong> e mais uma<br />
provocação permanente”(FOUCAULT, 1982, p. 222).<br />
Esta liberdade é um lembrete de que a autoridade<br />
está sempre aberta ao questionamento, de que a razão é,<br />
inescapavelmente, agonística e recorrente. Ela implica<br />
um cetismo para com categorias fundacionais ou expressivas<br />
e uma reflexão crítica sobre a instituição e a negociação<br />
da autoridade. É por isto que suspeito de<br />
programas educacionais planeja<strong>dos</strong> para “desenvolver o<br />
potencial criativo das pessoas” ou de esquemas políticos<br />
que prometem criar “as condições de uma plena<br />
realização <strong>dos</strong> talentos humanos”. 8 Essas pretensões não<br />
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