Pedagogia dos monstros - Apresentação
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aderência programática são, assim, curiosamente interdependentes<br />
nesse estilo de crítica. Os conceitos não<br />
são questiona<strong>dos</strong> e transforma<strong>dos</strong> — eles são atormenta<strong>dos</strong><br />
e reabilita<strong>dos</strong>.<br />
SUBJETIVIDADE E AGÊNCIA<br />
Tal é a sorte do conceito de sujeito na análise de<br />
Donald. Já observamos que Donald critica a versão<br />
transcendental deste conceito — e a política libertária<br />
que ele sustenta — ao tratar o sujeito autoformativo<br />
como o produto de tecnologias governamentais tais<br />
como a escolarização estatal. Neste processo, ele até<br />
parece aceitar a antropologia histórica do sujeito de<br />
Mauss (1985), na qual o indivíduo autopreocupado e<br />
automonitorado é tratado como o produto de instituições<br />
legais, morais e religiosas peculiares ao Ocidente<br />
antigo e moderno. Ao mesmo tempo, ao insistir<br />
que o governo chega aos indivíduos apenas através<br />
do desvio do inconsciente, Donald “re-universaliza” e<br />
“desistoriza” o conceito de sujeito e sua “formação”. O<br />
problema, aqui, é que esse desvio transmuta as tecnologias<br />
culturais em “representações”, ao transformálas<br />
naquilo que o indivíduo fracassa em saber; isto é,<br />
em representações que trazem o indivíduo à luz como<br />
o sujeito de consciência (fracassada). O custo de se<br />
encontrar um espaço extragovernamental para o desejo<br />
é, portanto, a aderência a um único e geral modelo<br />
teórico de formação do sujeito, fundamentado no<br />
jogo das representações conscientes e inconscientes:<br />
(...) a produção do eu não atua apenas através do<br />
incitamento de desejos. Antes as normas e proibições