25.04.2013 Views

Pedagogia dos monstros - Apresentação

Pedagogia dos monstros - Apresentação

Pedagogia dos monstros - Apresentação

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Esta estrutura constitui parte de um sistema mais<br />

vasto de figuras do Outro, e seria necessário descrever<br />

todo esse conjunto para situar com precisão o lugar do<br />

monstro. Digamos, simplesmente, que a questão de<br />

saber se tal ser é um Outro (um alter ego) tem apenas a<br />

ver com um humano. Mesmo que a humanidade, formulada<br />

em primeiro lugar, seja a seguir posta em dúvida,<br />

é fundado nessa certeza inicial que se interroga a<br />

humanidade do outro. O caso recíproco nunca acontece:<br />

não nos perguntamos se um golfinho, ou um chimpanzé,<br />

é humano, apenas nos interrogamos quanto à<br />

sua inteligência ou linguagem — aproximamo-nos, por<br />

certo, do limiar para lá do qual a animalidade cessa.<br />

Mas a interrogação refere-se à animalidade, não à alteridade<br />

do golfinho ou do chimpanzé.<br />

Assim, o outro mantém-se sempre entre fronteiras<br />

exteriores: o animal e a divindade não representam<br />

limites do humano. Como outros radicalmente-outros,<br />

já se encontram para lá do humano. O outro toma<br />

forma no intervalo que vai do Ego-homem ao animal<br />

e aos deuses, resultando sempre de uma transformação<br />

da humanidade do homem. É a natureza dessa<br />

transformação que temos de definir em cada caso se<br />

quisermos compreender o significado do Outro.<br />

É por isso que as diferentes formas do Outro tendem<br />

para a monstruosidade: contrariamente ao animal<br />

e aos deuses, o monstro assinala o limite “interno” da<br />

humanidade do homem. Por exemplo, embora os índios<br />

e negros descobertos nos séculos XV e XVI em África<br />

e nas Américas se encontrassem aquém das fronteiras<br />

da monstruosidade, a sua humanidade foi objecto de<br />

dúvida: eram <strong>monstros</strong>, animais? Por outras palavras,<br />

a sua alteridade é móbil, não fixa e, por definição,<br />

173

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!