Pedagogia dos monstros - Apresentação
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É precisamente isso que eles querem enfatizar quando<br />
substituem a linguagem espiritualista, idealista, transcendentalista<br />
de “almas” e “sujeitos” pela linguagem<br />
profana, materialista, imanentista de “máquinas” e<br />
“corpos sem órgãos”. Mas se a teorização de Deleuze e<br />
Guattari aponta, ainda, para seres e processos que nos<br />
parecem demasiadamente teóricos e abstratos, a teoria<br />
cultural contemporânea vem nos dizendo que pelo<br />
menos alguns desses seres e processos já estão entre<br />
nós. Para a teoria cultural contemporânea, a “existência”<br />
de <strong>monstros</strong>, ciborgues e autômatos complica,<br />
definitivamente, o privilégio tradicionalmente concedido<br />
ao ser humano ou, se quisermos, ao “sujeito”,<br />
com todas as propriedades que costumam ser descritas<br />
no “manual do usuário” que o acompanha (por<br />
favor, consulte o seu): essencialidade, consciência, autonomia,<br />
liberdade, interioridade. Os fundamentos da<br />
“teoria do sujeito” tornam-se ainda mais duvi<strong>dos</strong>os<br />
com o desenvolvimento da chamada engenharia genética,<br />
sobretudo, as possibilidades abertas com a manipulação<br />
do código genético e da clonagem.<br />
Tal como demonstrado por Donna Haraway, a generalização<br />
da simbiose entre máquina e organismo, no<br />
mundo contemporâneo, torna cada vez mais difícil distinguir<br />
aquilo que é puramente organismo daquilo que<br />
é puramente máquina. Se com Darwin o homem se<br />
tornou ontologicamente indistingüível <strong>dos</strong> outros seres<br />
vivos, a existência “real” de ciborgues torna problemática<br />
distinções ontológicas demasiadamente nítidas entre<br />
homem e máquina. O privilégio dado à subjetividade<br />
humana, com to<strong>dos</strong> os atributos que lhe são anexa<strong>dos</strong>,<br />
torna-se, no mínimo, duvi<strong>dos</strong>o. Essa confusão de