Pedagogia dos monstros - Apresentação
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criança para a independência e a racionalidade pode ser<br />
alcançada apenas através da imposição do controle: “devemos<br />
provar a ela que o controle lhe é imposto para<br />
que ela possa, no devido tempo, usar sua liberdade corretamente,<br />
e que sua mente está sendo cultivada para<br />
que ela possa, um dia, ser livre; isto é, independente da<br />
ajuda de outros” (KANT, 1986, p. 269). Trata-se de uma<br />
liberdade administrada. Trata-se de uma forma de conduta<br />
a ser aprendida. Não se trata de um estado edênico<br />
de liberdade absoluta, para além das demandas e das fronteiras<br />
do social, mas de uma capacidade para agir de forma<br />
autônoma no interior das regras e das formas sociais.<br />
O paradoxo de uma liberdade individual que é obtida<br />
através da submissão às normas pedagógicas é<br />
expressado de forma mais dramática por Rousseau.<br />
Na verdade, à primeira vista, ele parece estar dizendo<br />
duas coisas bastante contraditórias. Em Emílio, ele argumenta<br />
apaixonadamente que a criança precisa ser<br />
protegida da exposição prematura às corrupções da<br />
sociedade se se quer que ela tenha qualquer chance de<br />
crescer ou se desenvolver naturalmente. E, contudo,<br />
em O contrato social, ele sugere com igual força que é<br />
apenas através da participação ativa nas atividades da<br />
sociedade que o homem desenvolve suas capacidades<br />
intelectuais e morais:<br />
Embora, na sociedade civil, o homem renuncie a<br />
algumas das vantagens que pertencem ao estado da<br />
natureza, ele ganha, em troca, outras bem maiores;<br />
suas faculdades são tão exercidas e desenvolvidas, seus<br />
sentimentos tão enobreci<strong>dos</strong>, e seu espírito inteiro<br />
tão elevado que, se o abuso de sua nova condição<br />
não o rebaixar, em muitos casos, a algo pior do que