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Pedagogia dos monstros - Apresentação

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obrigadas a desaparecer do olhar público: o canibalismo<br />

como incorporação ao corpo cultural errado.<br />

O monstro é um poderoso aliado daquilo que Foucault<br />

(1990, p. 47-48) chamou de “a sociedade panóptica”,<br />

na qual “comportamentos polimorfos foram,<br />

realmente, extraí<strong>dos</strong> do corpo <strong>dos</strong> homens, <strong>dos</strong> seus<br />

prazeres... mediante múltiplos dispositivos de poder,<br />

foram solicita<strong>dos</strong>, instala<strong>dos</strong>, isola<strong>dos</strong>, intensifica<strong>dos</strong>,<br />

incorpora<strong>dos</strong>”. Susan Stewart (1984, p. 104-31) observou<br />

que “a sexualidade do monstro assume uma vida<br />

separada”; Foucault nos ajuda a ver porquê. O monstro<br />

corporifica aquelas práticas sexuais que não devem ser<br />

exercidas ou que devem ser exercidas apenas por meio<br />

do corpo do monstro. Ela e Eles!: o monstro impõe os<br />

códigos culturais que regulam o desejo sexual.<br />

Qualquer pessoa que tenha familiaridade com a onda<br />

<strong>dos</strong> filmes baratos de ficção científica <strong>dos</strong> anos 50 reconhecerá<br />

na sentença anterior dois magníficos filmes do<br />

gênero: um sobre a virago radioativa do espaço exterior<br />

que mata todo homem que ela toca; o outro, uma parábola<br />

social no qual formigas gigantes (na verdade,<br />

comunistas) cavam um túnel sob Los Angeles (isto é,<br />

Hollywood) e ameaçam a paz mundial (isto é, o conservadorismo<br />

americano). Eu ligo esses dois títulos<br />

aparentemente desconecta<strong>dos</strong> aqui para chamar a atenção,<br />

em primeiro lugar, para as ansiedades que transformam<br />

seus sujeitos em <strong>monstros</strong> e, depois, para<br />

expressar sintaticamente um medo ainda mais profundo:<br />

o medo de que os dois juntar-se-ão em alguma miscigenação<br />

pouco sagrada. Vimos que o monstro surge<br />

no intervalo no qual a diferença é percebida como a divisão<br />

entre, de um lado, a voz que registra a “existência”

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