Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
Pedagogia dos monstros - Apresentação
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
32<br />
científica e sua ordenada racionalidade se desintegram.<br />
O monstruoso é uma espécie demasiadamente grande<br />
para ser encapsulada em qualquer sistema conceitual; a<br />
própria existência do monstro constitui uma desaprovação<br />
da fronteira e do fechamento; como os gigantes<br />
de Mandeville’s Travels, ele ameaça devorar, “cru e sem<br />
tempero”, qualquer pensador que insista em outra coisa.<br />
O monstro é, dessa forma, a corporificação viva do<br />
fenômeno que Derrida (1974) rotulou de “o suplemento”<br />
(ce dangereux supplément): ele desintegra a lógica silogística<br />
e bifurcante do “isto ou aquilo”, por meio de<br />
um raciocínio mais próximo do “isto e/ou aquilo”, introduzindo<br />
o que Barbara Johnson (1981, p. xiii) chamou<br />
de “uma revolução na própria lógica do significado”.<br />
Desaprovando plenamente os méto<strong>dos</strong> tradicionais<br />
de organizar o conhecimento e a experiência humana,<br />
a geografia do monstro é um território ameaçador e,<br />
portanto, um espaço cultural sempre contestado.<br />
TESE IV:<br />
O MONSTRO MORA NOS<br />
PORTÕES DA DIFERENÇA<br />
O monstro é a diferença feita carne; ele mora no<br />
nosso meio. Em sua função como Outro dialético ou<br />
suplemento que funciona como terceiro termo, o<br />
monstro é uma incorporação do Fora, do Além — de<br />
to<strong>dos</strong> aqueles loci que são retoricamente coloca<strong>dos</strong><br />
como distantes e distintos, mas que se originam no<br />
Dentro. Qualquer tipo de alteridade pode ser inscrito<br />
através (construído através) do corpo monstruoso,<br />
mas, em sua maior parte, a diferença monstruosa tende<br />
a ser cultural, política, racial, econômica, sexual.